O Clã (El Clan). (Biografia/Crime/Drama); Elenco: Guillermo Francella; Peter Lanzani, Lili Popovich; Direção: Pablo Trapero; Argentina/Espanha, 2015. 110 Min. #FestivalDoRio2015
Baseado numa história real, “O Clã” de Pablo Trapero é a indicação da Argentina ao Oscar 2016 e faz um recorte na história de horror da família Puccio revelada nos anos 80. O viés é a personalidade de Arquimedes Puccio, um homem frio, cruel e manipulador que orquestrava sua família com o consentimento de sua mulher a professora Epifânia Puccio para realizar sequestros e ganhar muito dinheiro encobertos pelo serviço de inteligência do exército.
Arquimedes Puccio (Guilhermo Francella) foi um contador, advogado e empresário, membro da Alianza Anticomunista Argentina do batalhão de inteligência – unidade especial do exército argentino – que entre 1983 a 1985 sequestrou empresários bem sucedidos e fazia sua própria casa de cativeiro, pedia resgate e em seguida matava suas vítimas. Tendo na família uma fachada de insuspeição, era ajudado por dois de seus filhos: Daniel/Maguila (Gaston Cochiarale) e Alejandro (Peter Lanzani) – um promissor jogador de Rugby – além de comparsas militares reformados e amigos do serviço de inteligência.
Pablo Trapero de “Elefante Branco” (2012) não teve pretensões históricas, nem documentais, apenas fez o registro do modus operandis de Arquimedes em relação às suas vítimas e à sua família, focando na extrema frieza e poder de persuasão de Arquimedes, seja pelo afeto ou pela ameaça. A criação desse caminho, o do contar da história, ficou por conta de Julian Loyola de “Crônica de Uma Fuga” (2006), Esteban Student de “Charlie” (2001) – filme de TV- e o próprio Trapero. Produzido pelos irmãos Almodóvar (Augustin e Pedro), tem a trilha sonora assinada por Sebástian Scofet de “O ùltimo Elvis” (2012) e a fotografia por Julián Apezteguia de “Habi, a Estrangeira” (2013). As atuações de Guilhermo Francella, Lili Popovich (Epifânia Puccio) e Peter Lanzani estão primorosas. Por tudo isso “El Clan” ( no original) levou o prêmio de melhor diretor no Festival de Veneza e foi indicado ao Leão de Ouro.
Quem for buscar na pelícuka de Pablo Trapero um registro documental se frustrará. O passeio do cineasta é pela intimidade da família, traçando um painel do paradoxo da convivência familiar regada a atenções e cuidados com a crueldade dispensada às suas vítimas debaixo do mesmo teto. É uma abordagem bem delimitada e que só é extrapolada quando relata o destino final de cada indivíduo na vida real. Não é o melhor que a Argentina produziu em relação a indicados ao Oscar pelo país, mas visto de um lugar de denúncia da vilania humana misturada a história de uma das ditaduras mais cruéis da America latina, até que não está mal. Vale a pena conferir.
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