Um Homem entre Gigantes

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Um Homem entre Gigantes

Por | 2018-06-17T00:14:36-03:00 5 de março de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Um Homem entre Gigantes (Concussion). (Biografia/Drama/Esporte); Elenco: Will Smith, Alec Baldwin, David Morse, Albert Brooks, Gugu Mbatha-Raw; Direção: Peter Landesman; Reino Unido/Austrália/USA, 2015. 123 Min.

Tendo como um de seus produtores o cineasta Ridley Scott, “Um Homem entre Gigantes”conta a história de uma descoberta médica num contexto de poder e de selo cultural de um país – o futebol americano – e de todo o processo de convencimento de que os traumas encefalopáticos crônicos que os jogadores apresentavam quando mais velhos, estavam associados às pancadas recebidas durante toda uma vida jogando futebol americano. Baseado em fatos reais, o longa-metragem dirigido por Peter Landesman e roteirizado pela professora, jornalista e escritora Jeanne Marie Laskas, a partir de seu livro “Concussion” (2015), que por sua vez foi baseado no artigo do Dr. Bennet Omalu: “Game Brain: Chronic Traumatic Encephalopathy in a National Football League Player”, publicado em 2005, é uma jornada pelos valores humanos e suas camadas de importância segundo nossa mercê.

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Dr. Bennet Omalu (Will Smith) é um neuropatologista forense, nígero-americano, que usa a morte para melhorar a vida. Altamente qualificado e respeitado, ao fazer a autópsia no jogador de futebol americano Mike Webster (David Morse) em 2002, descobriu algo importante. E do próprio bolso investiu nessa pesquisa. As mortes dos jogadores aposentados se repetiram e nas mesmas circunstâncias: depressão, descontrole, alienação e fatídicos suicídios. Após a descoberta da associação entre a doença e os traumas sofridos pelos jogadores durante as partidas ao longo de uma vida, a luta foi a de convencer a todos, inclusive a Liga de Futebol Americano (NFL) de que seu produto nacional número 1 era danoso à saúde dos jogadores. “Um Homem entre Gigantes” é uma boa metáfora para David e Golias e tem como primor a mistura de camadas entre ciência e a manutenção cultural – tanto a do Dr. Omalu com seus valores vernáculos, como a do futebol americano como identidade desportista de um país – além de ser uma arena de embates ideológicos e éticos muito bem costurados.

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Peter Landesman de “JFK: A História Não Contada” (2013) também roteirizou “O mensageiro” (2014).O cara tem mão boa para contar histórias de desbravadores de verdades. Ancorados no livro de Jeanne Marie Laskas, que também roteirizou o longa, o filme consegue ser científico, usar termos da área e discutir, pertinentemente, os aspectos abordados com diálogos bem elaborados e não ser chato. Para tanto teve consultoria do próprio Dr. Bennet Omalu, do Dr. Julian Bailes (personagem do Alec Baldwin), e do Dr. Cyril Wecht (personagem do Albert Brooks). Mantém também a tensão do embate ideológico: acabar com o futebol americano e varrer um aporte cultural importante? e/ou Sacrificar jovens em nome de milhões de dólares? e aí a radiografia da desfaçatez humana sob camadas e camadas de argumentação persuasivas também é muito bem construída.

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Tecnicamente o filme tem bojo. A edição de William Goldemberg de “Argo” (2012) dá um show na conexão imagética entre o que acontece num campo de futebol, com o cérebro do indivíduo e a teoria explicativa de Dr. Omalu. A trilha sonora de James Newton Howard de “Jogos Vorazes” potencializa tudo isso, juntamente, com a fotografia de Salvatore Totino de “Everest” (2015) que dá o tom de equilíbrio do núcleo do Dr. Omalu em comparação aos outros núcleos. E uma atuação de Will Smith que lhe rendeu prêmios: Melhor ator do African-American Film Critics e no Hollywood Film Awards, além da indicação ao Globo de Ouro.

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“Concussion” (no original) é um filme que ovaciona o saber humano em detrimento do capital e das diferenças culturais e étnicas. O longa enfatiza várias vezes a titulação do Dr. Bennet Omalu de forma bastante pertinente, já que sua origem africana o colocava em desvantagem cultural, social e, porque não, epistemológica. A abordagem de todos esses aspectos no filme é muito bem lapidada, sutil e bem finalizada. Sem contar que é uma história real acontecida de 2002 para cá, finalizando com a concessão da cidadania norte-americana para o Dr. Bennet Ifeakandu Omalu em fevereiro de 2015. Vaticinando: Vale o ingresso!

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Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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