Cromossomo 21

Por | 2017-12-11T00:09:48-03:00 11 de dezembro de 2017|Resenha cinematográfica|0 Comentários

Cromossomo 21 (Drama); Elenco: Adrielle Pelentir, Luis Fernando Irgang, Marisol Ribeiro, Deborah Finocchiaro, Susy Ayres; Direção: Alex Duarte; Brasil, 2016. 91 Min.

O longa-metragem que é a culminância de um projeto de inclusão de sete anos de caminhada; que produziu dois livros e que apresenta como viés a  desconstrução do conceito de normalidade; e ainda, tem neste viés uma metáfora da própria produção cinematográfica, traz uma  pessoa com síndrome de Down como protagonista. “Cromossomo 21” versa sobre as possibilidades e potencialidades das pessoas com a síndrome de viver uma vida igual a de todos, com suas peculiaridades respeitadas, a saber: a pureza, a sinceridade, o amor à vida e a ingenuidade em seu enredo. Na produção, também não é um filme para ser visto como os outros,  tem suas peculiaridades: os aspectos do cotidiano são pinçados de forma fragmentada e estanque para formar o mosaico que compõe a história. E esses, não por acaso, são exatamente, aqueles em que o preconceito se manisfesta.

O filme conta a história fictícia de Vitória (Adrielle Pelentir) que tem a síndrome de down e que se apaixona por Afonso (Luis Fernando Irgang) que não tem a síndrome. A partir desse argumento, o diretor e roteirista Alex Duarte apresenta situações-problema que ajudam a pensar e discutir inclusão. Tudo isso feito através das situações estanques apresentadas dentro de um contexto, através de diálogos reflexivos, com uma bordagem muito importante: o olhar da pessoa com a  síndrome. A pergunta que dá início ao roteiro foi feita de fato, na vida real, numa entrevista,  e partir dela a história se alavancou, segundo o próprio diretor.

A história dessa culminância é no mínimo ‘sui generis’. Pensado a partir de uma entrevista com Adrielle Pelentir, há sete anos atrás, pela inusitariedade de uma pessoa com a síndrome de down ter passado no  vestibular para uma faculdade de Nutrição – hoje Adrielle é nutricionista formada – “Cromossomo 21” mudou a vida de todos os que estavam envolvidos no projeto. Alex Duarte escreveu dois livros sobre o assunto: “21, do Diagnóstico a Independência” e “Cromossomo 21”. Luis Fernando Irgang defendeu um TCC sobre inclusão em empresas e agora, desponta numa obra cinematográfica que tem cunho de campanha inclusiva e é político, no sentido gregário.

“Cromossomo 21” não é para ser visto como os demais, numa avaliação de tecnicalidades e viés artístico, ou complexidade de trama e roteiro. Ele é simples, tem atuações estanques dentros dos fragmentos de situações que aborda, cortes abruptos e incipientes. Mas,seu objetivo não é a competitividade mercadológica e sim um fomento à inclusão social das pessoas com síndrome de down. E mesmo com essas particularidades, o longa-metragem abocanhou menção honrosa no Festival de Cinema de Gramado 2016; foi premiado no Los Angeles Brasilian Festival; ganhou o prêmio do público de melhor filme no Festival Internacional de Cinema de La Mujer. Sobre os aspectos mais técnicos, na trilha sonora tem-se de Clarice Falcão a Lenine e a direção de fotografia é assinada por  Helder Martins de “Ódio” (2017). Diferente de “O Filho Eterno” (2016) de Paulo Machline em que o ponto de vista era o o dos pais que se viam numa situação muito difícil em aceitar um filho com a síndrome, em “Cromossomo 21” o ponto de vista é inverso é da pessoa com a síndrome, que não tem postura vitimista e apresenta um leque de potencialidades. Dirigido por Alex Duarte, que documentou a missão de paz da ONU no Haiti, é construído de tal forma que, em alguns momentos, chega a dar inveja da forma com a qual eles veem o mundo.

“Cromossomo 21” é um painel proposital e enfático de nossas pre-conceituações e, desconstrução do conceito de normalidade,  já que  faz uma exposição da aura, dos anseios e competências das  pessoas com a síndrome em contraponto com nossa ‘normalidade’ sórdida. Produzido de forma cooperativada é uma campanha competente de inclusão com um viés bastante importante, o direito ao exercício da sexualidade e de uma vida igual a de todos para as pessoas com síndrome de down, ou seja, é uma quebra de paradigma. O longa diz a que veio e dá conta do recado.

  • Este texto teve a colaboração da professora de Educação Especial Marcela Lemos

 

Sobre o Autor:

Crítica cinematográfica, editora do site Cinema & Movimento, mestre em educação, professora de História e Filosofia e pesquisadora de cinema. Acredito no potencial do cinema para fomentar pensamento, informar, instigar curiosidades e ser um nicho rico para pesquisas, por serem registros de seus tempos em relação a indícios de mentalidades, nível tecnológico e momento histórico.

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  1. Edson Regis 11 de dezembro de 2017 em 11:20 - Responder

    Por favor, retirem a palavra portador. Não se usa mais. É pessoa com deficiência ou síndrome de Down. Parabéns pelo texto

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