Olympia 2016

Por | 2018-06-17T00:36:07-03:00 16 de setembro de 2016|Resenha cinematográfica|0 Comentários

Olympia (Docu-drama/Thriller político); Elenco: Jean Carlos Novaes, Marianna Mac Niven, Gessica Justino, Patricia Abelson, Claudio Mendes; Direção: Rodrigo Mac Niven; Brasil, 2016. 115 Min.

“O traidor da constituição é um traidor da Pátria”

(Ulisses Guimarães)

A docu-ficção dirigida por Rodrigo Mac Niven mostra o quanto a política está misturada ao nosso cotidiano e aborda a corrupção como tema central usando duas formas narrativas diferentes. “Olympia 2016” tem em seu formato o documentário misturado a ficção e como subproduto uma graphic novel intitulada “A História Perdida” que conta a história da estátua símbolo da cidade – a Demokrácia. Diretamente conectado com os adventos da organização dos jogos olímpicos de 2016, o longa-metragem tem uma abordagem didática com entrevistados de peso, uma história de ficção que remonta o século XIX com um viés metafísico e é ancorada numa mitologia pertinente que metaforiza nossa cultura do silêncio.

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Numa cidade fictícia chamada Olympia revela-se uma teia de corrupção datada do século XIX, com grilagem de terras até chegar a construção de um campo de golfe olímpico em 2016. Um assessor que trabalha neste contexto, Jean Carlos (Jean Carlos Novaes) descobre um enorme esquema de corrupção e resolve denuncia-lo. Procura, então, o documentarista Rodrigo (Rodrigo Mac Niven) para contar a história no intuito de divulgar o disparate. O catalisador para tudo isso é a construção de um campo de golfe numa reserva ambiental. O longa-metragem a partir daí faz um organograma da corrupção na cidade de Olympia com relatos de fatos reais cujos autores têm seus nomes ficcionados e o fio condutor da história é entremeado a entrevistas com filósofos, economistas e afins. Entre eles: o filósofo colombiano Bernardo Toro; o professor da USP Vladimir Safatle; o jornalista esportivo Juca Kfouri, a relatora especial para o direito de moradia do Conselho de Direitos Humanos da ONU Raquel Rolnik (que exerceu a função por seis anos); o economista especialista em eventos esportivos Andrew Zimbalist e os moradores da Vila Autódromo.

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Criado por Rodrigo Mac Niven e Sandro Langer com contribuição de Jean Carlos Novaes “Olympia 2016” é dirigido e roteirizado por Rodrigo que tem como histórico abordagens contundentes, de conteúdos provocativos sobre questões globais a partir de realidades locais, além de exposição de temas ousados com exploração de linguagens novas. Em seu oitavo documentário é conhecido por “Cortina de Fumaça” (2010) e “O Estopim” (2014). Em “Olympia 2016” aborda em específico o legado da Rio 2016 para  a população carioca. O diretor faz do exercício da democracia um saga sobre seu modus operandi trazendo à baila da promulgação da constituição de 1988 a especulação imobiliária no Rio de Janeiro, tudo isso misturado a vida das pessoas. A forma de abordagem é o próprio processo de investigação da questão. Faz, ainda, um traçado antropológico sobre a sede de poder a espoliação dos mais fracos, quando aborda os aspectos  mais antigos  da história sob a égide da ficção. No longa todos os  insatisfeitos tem cicatrizes, todos os indignados são marcados. O filme é uma catarse e uma forma de protesto, um exercício de fomento de pensamento  e de questionamento da realidade vigente e, quiçá, uma chamada para a luta. Financiado por 534 pessoas a produção é totalmente independente e, por tal, pôde se manifestar sem rédeas (pelos menos as mais óbvias)

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Inspirados, em sua fundamentação teórica, nos livros “Ética da Malandragem” e “Sanguessugas do Brasil”, ambos do jornalista Lucio Vaz, o filme tem em sua exibição um desfile de obras literárias cientificas que entremeiam o roteiro servindo como referencial bibliográfico para os mais interessados. Além da direção de fotografia de Martin Sciarreta da série de TV  “Rio Resgate” (2016); e da trilha sonora de Fernando Moura de “Maré, Nossa História de Amor” (2007).

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Sobre a graphic novel é interessante pontuar, pois ela traz a história da estátua que é o símbolo da cidade fictícia e poster comercial do filme. Nessa Mídia “A História Perdida” uma cidade depois da batalha entre os “Voadores” e os “Pés-no-chão”  institui a cerimônia do alinhamento. Nesta, as crianças recém-nascidas têm suas asas cortadas. Demokrácia, nascida séculos depois num povoado distante não foi alinhada. Um certo dia, o vento carregou uma de suas penas e ela foi descoberta. Demokrácia, então, teve suas asas cortadas e foi decapitada. Acabou se tornando o símbolo da ordem através de uma estátua erguida no morro mais alto de Olympia…qualquer semelhança com o que vemos em nossas sociedades não terá sido mera coincidência.

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O momento ideal para estreia era a da vigência das olimpíadas. Mas, antes tarde do que nunca! Entra em cartaz a docu-ficção que promete incomodar.  Vaticinando: Imperdível e totalmente recomendável!

“Em um momento de tanta turbulência política, falência do sistema e aumento da intolerância por conta da divergência de ideias, é fundamental que a sociedade discuta de forma mais aprofundada o fenômeno da corrupção”

(Rodrigo Mac Niven)

Informes:

  • Caso escolas queiram exibir para seus alunos, é só entrar em contato (Aqui!)

 

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Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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