Pantera Negra (Black Panter) (Aventura/Ficção-cinetífica/Ação); Elenco: Chadwick Boseman, Michale B. Jordan, Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Martin Freeman, Daniel Kaluuya, Letitia Wright, Winston Duke, Forest Whitaker, Andy Serkis; Direção: Ryan Coogler; USA, 2018. 134 Min.
Com as bençãos de Stan Lee, que aparece no longa numa cena hilária, para variar, “Pantera Negra” salta das Histórias em Quadrinhos (HQs) e outras mídias para o cinema como parte do projeto de expansão cinematográfica do universo Marvel para a telona. O terceiro herói ambientado na àfrica mas, primeiro herói negro protagonista de suas revistas, “Pantera Negra”, diferente de Tarzan e Fantasma, dá mais atenção ao contexto e a realidade africana. O grande diferencial, dessa vez, é o elenco predominantemente negro e a equipe, também. Como um herói que, desde “Capitão América: Guerra Civil” (2016), se anuncia nas histórias do universo expandido, essa foi a sua apresentação, ao público, através do filme protagonizado pelo herói africano.
A África nunca esteve no universo das HQs em nível de igualdade com os demais continentes, e quando apareceu foi através de um olhar externo e etnocentrista que evocava exotismo e estranhamento, vide Tarzan e Fantasma. Tarzan surgiu em 1912 criado pelo americano Edgar Rice Burroughs na All-history Magazine. Foi publicado em livro em 1914, virou filme em 1918 com o título Tarzan of the Apes dirigido por Scott Sidney e estrelado por Elmo Lincon. Fantasma “O Espírito que Anda”, também é um homem branco, cuja vida é ambientada na África, num país fictício chamado Bengalla e foi criado por Lee Falk em 1936 para uma tirinha de jornal e já foi publicado pela Marvel e pela DC Comics. O filme foi lançado em 1996 dirigido por Simon Wincer e estrelado por Billy Zane. Em ambos os casos os heróis não tem superpoderes, apenas habilidades extraordinárias e uso de artefatos que potencializam essas habilidades como extensões do corpo.
“Pantera Negra” foi criado em 1966 por Stan Lee e Jack Kirby e apareceu pela primeira vez nos quadrinhos na Fantastic Four #52 e é o primeiro super-herói negro a protagonizar suas histórias numa HQ. Antes, tivemos heróis negros misturados num contexto sem protagonização como Waku, príncipe de Bantu em All-Negro Comics#1 (1947) que só teve uma edição. O Lobo do faroeste ou em, Jungle Tales (1954), ou ainda, o Soldado Gabriel Jones na Sgt Fury and His Hawling Commands. Os mais conhecidos são “Falcão” (1969) e “Luke Cage” (1972) da Marvel. Ou seja, Pantera Negra tem seu diferencial na editoração como protagonista e na composição de seu personagem, é o primeiro com poderes místicos. A jornada de Pantera Negra na HQs segue a trajetória de todo super-herói, ao sabor do mercado editorial. Como tudo também orbita de acordo com o momento em que está inserido, teve problemas, logo no início devido ao movimento dos Panteras Negras nos EUA, mas superou. Hoje o movimento da representatividade é o grande fomentador do longa-metragem de Ryan Coogler, que, além de abandonar o olhar externo em relação à África, mergulha na cultura mitológica daquele continente, e traz um contingente respeitoso de afro descendentes no elenco e ainda, os cerimoniais, a ética, o respeito ás tradições e um figurino inspirado nos vestuários tribais. E como é um filme de super-heróis, a inserção da tecnologia, necessária para a história funcionar, como uma extensão da filosofia bem presente nas culturas daquele continente.
O objetivo consiste na apresentação da personagem e seu contexto no universo expandido da Marvel para o cinema, a história versa sobre ética. Aproveitando o recorte da série criada (1973-1976) na Jungle Action onde surgiu o vilão Erick Killmonger (Michael B. Jordan), este é trazido de lá para disputar o trono de Wakanda com T’Challa/Pantera Negra (Chadwick Boseman). Enquanto isso, a tecnologia secreta desenvolvida a partir do vibraniun pelos wakandenses é roubada por Ulisses Klaue (Andy Serkis) para fabricar armas potentes e vende-las para outros países. Combatendo nas duas frentes o herói africano se desdobra para resolver as questões internas e externas com a ajuda de seu conselho, sua família e sua general Okoye (Danai Gurira).
O longa-metragem cumpre bem o seu papel como filme de super-heróis. E mais, o de representatividade, são afrodescendentes apresentando, mesmo que de forma fantástica, o continente africano. Do diretor, passando pelo roteirista e uma maioria predominante do elenco são negros falando e representando suas raizes. Ryan Coogler de “Creed: Nascido para Lutar” (2015) que dirige o longa e co-roteiriza com Joe Robert Cole de “American Crime Story (2016) pelo qual foi indicado ao Primetime Emmy; Chadwick Boseman de “Get On Up: A História de James Brown” (2014); Michael B. Jordan de “Quarteto Fantástico” (2015); Lupita Nyong’o de “Star Wars: Os Últimos Jedi” (2017); Danai Gurira de “The Walking Dead” (série de TV) dentre outros. O grande destaque vai para o figurino assinado por Ruth E. Carter de “Selma: Uma Luta pela Liberdade” (2015).
Em suma, “Pantera Negra” é mais do que um filme de super-heróis. Diferente de “Tarzan” e “Fantasma” é um filme que se pretende um olhar mais aproximado da África. É ambientado na África, falado em Swahili, Nama, Xhosa, inglês e coreano. Não tem sua aventura passa da em Nova York como os outros e tem uma produção condizente com a cultura africana. “Pantera Negra” é apresentação na modalidade cinematográfica de uma personagem surgida a meio século e aí se insere com o pé direito. Não deixa de ser um filme de fantasia, do nicho da ficção científica, com muita ação e aventura, e não é de cunho político, embora tenha suas falas históricas. Ou seja, fecha a tampa com louvor. Vale o ingresso!
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