BR 716

Por | 2016-11-15T23:16:50-03:00 15 de novembro de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

BR 716 (Drama); Elenco: Caio Blat, Sophie Charlotte, Glauce Guima, Gabriel Antunes, Maria Ribeiro, Álamo Facó, Pedro Cardoso, Daniel Dantas; Direção: Domingos Oliveira; Brasil, 2016. 85 Min.

“A Paixão é  o Himalaia de deus”

(Domingos Oliveira)

O cineasta, roteirista, escritor e dramaturgo Domingos Oliveira anda nostálgico ultimamente. Depois de “Infância” onde conta um momento de sua vida infante, ele volta as luzes e as câmeras para a década de 60, mais precisamente 1963, a ante-sala do golpe militar com um recorte voltado para os amigos, as festas, as discussões políticas, a boemia e o apartamento da Avenida Barata Ribeiro 716.

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Título do filme, o endereço é o locus de momentos culturais e festivos de uma geração de classe média alta e sua forma de pensar, sentir e ver o mundo. Gravado em Preto & Branco o filme é uma viagem no tempo, através dos relatos de Felipe (Caio Blat) – o alter ego de Domingos Oliveira –  sobre o  seu cotidiano, os seus sonhos,  as suas perdas e suas paixões. E mesmo com uma vibe festiva não deixa de mostrar o clima de tensão que se estabelecia na nação à época do golpe de 1964. Ambientado nas festas, nas reuniões de leitura de roteiros, nos saraus de poesia e discussões políticas, ali está desenhado o perfil da geração da década de 60, com liberdade sexual e  de pensamento.  A trilha sonora soberba é imbuída de um saudosismo salutar e de valoração de um tempo, com o melhor da época. Escrito durante um curso de dramaturgia ministrado pelo cineasta “BR 716” foi o grande vencedor do Festival de Gramado 2016 com 4 kikitos: melhor filme, melhor diretor, melhor trilha musical e melhor atriz coadjuvante para Glauce Guima.

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Do alto de seus 80 anos o cineasta prova que essa geração de pensadores com imagens está em alta também no Brasil. Domingos de Oliveira roteirizou, dirigiu e escolheu a premiada trilha musical. A fotografia de Luca Pougy e Felipe Roque também merece destaque, ela é o veículo da viagem no tempo; e a atenção de Caio Blat em sua interpretação do jovem Domingos conseguiu umas feições bastante parecidas em alguns takes nos remetendo de fato à persona.

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“BR 716” é um longa-metragem de extremos, da alegria à ditadura, das festas ousadas à cooptação para a luta, de Copacabana a Santa Cruz. “BR 716” é poesia, literatura e música eternizando um endereço nobre da princesinha do mar, é uma arte instantânea de Domingos de Oliveira, uma viagem em Preto & Branco… mas nada se compara a “Todas as Mulheres do Mundo”.

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Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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