Com Amor, Van Gogh (Loving Vincent) (Animação/Biografia/crime); Elenco: Robert Gulaczyk, Aidan Turner, John Sessions, Douglas Booth; Direção: Dorota Kobiela & Hugh Welchman; Reino Unido/Polônia, 2017. 94 Min.
Indicado ao Globo de Ouro na categoria de melhor animação, o primeiro longa-metragem pintado a mão da História do cinema é uma homenagem muito bem pensada ao pintor holandês Vincent Willem Van Gogh (1853-1890), da escola impressionista do final do século XIX. O mote que sustentou magnificamente essa empreitada não foi a abordagem, mas o uso da técnica de Van Gogh na pintura dos frames e o uso das referências na obra do autor para serem os lugares de partida para a história fictícia.
O argumento de colocar o Armand Roulin (Douglas Booth) a procurar Theo Van Gogh, irmão de Vincent, para entregar-lhe uma carta é um só uma desculpa para contar a história dos últimos dias de Van Gogh, traçar um painel de sua personalidade e um mosaico do tipo de sociedade que se tinha naquele espaço, naquela época. Por trás de toda essa empreitada estão mais de uma centena de artistas plásticos pintores, selecionados a partir de um contingente de mais de cinco mil candidatos e que partiram de referenciais de quadros da obra de Van Gogh para contar essa história de investigação sobre a morte do pintor como: o “Retrato de Pere Tanguy” (1887); o céu de “Campo de Trigo com Ciprestre” (1889); “A Noite Estrelada” (1889); “Campo de trigo com Corvos” (1890) e muito mais, usando a mesma técnica do pintor. Diferente de “O Homem Duplo” de Richard Linklater em que a filmagem foi transformada em animação por computação gráfica, em “Com Amor, Van Gogh” o ponto de partida foi a obra de Van Gogh, depois a gravação dos takes/cenas e a pintura deles a mão frame por frame depois a edição disso tudo. Nos lembra o tempo glorioso da animação feita a mão pelos studios Disney, criando o movimento perfeito da animação mundial.
A direção dessa jornada ficou por conta de Dorota Kobiela de “The Flying Machine” (2011) e Hugh Welchman um especialista em efeitos especiais que trabalhou no oscarizado “Piaf – Um Hino de Amor” (2007). Usando personagens da vida real de Van Gogh e de seus retratos como: Pere Tanguy (John Sessions), The Boatman (Sidan Turner), Doutor Gachet (Jerome Flynn), e interpretado por Robert Gulaczyk “Loving Vincent” (no original) é uma homenagem extraordinária sob a desculpa de contar a história da entrega de uma carta. Que está sob os holofotes nessa empreitada são os cinegrafistas Tristan Oliver de “A Fuga das Galinhas” (2000) e o reverenciado Lukasz Zal de “Ida”, pelo qual ganhou o sapo de ouro do Camerimage ( O Oscar da fotografia) e a edição feita pela própria Dorota em parceria com Justyna Wierszynska. O pilar de sustentação da obra é a fotografia e sua técnica artesanal misturada a uma tecnologia de ponta. Juntando Van Gogh, sua técnica e a computação gráfica, o século XIX e século XXI. E mais, um desagravo digno de aplausos a quem passou por tantas violências e morreu na miséria, sobrevivendo a muitos de seus contemporâneos em importância póstuma. Agora tem sua obra merecedora dessa eternização através de fusão de tecnologias e suportes. (Mais detalhes no final do texto no behind the scenes).
Essa inusitariedade ousada rendeu ao longa o prêmio do público no Vancouver international Film Festival e no Annecy International Animated Film Festival e na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo; melhor animação no Shangai International Film Festival e no European Film Awards. A co-produção entre o Reino Unido e a Polônia vale a pena ser conferida e constar na videoteca de casa ao lado do primeiro filme do cinema realizado pelos Lumière em 1895 para percebermos o caminho que trilhou o cinema nos últimos 122 anos. A mistura de linguagem e o avanço tecnológico a serviço da arte. “Com Amor, Van Gogh” é uma obra-prima homenageando um dos grande nomes da pintura impressionista. Uma obra de arte cinematográfica sem tirar nem pôr e tem com cara de Oscar. Simplesmente GENIAL!
Uma pena não ter levado o prêmio de melhor animação. Um grande filme!
Conheci através do site vejaumbomfilme.com.br e agora com mais profundidade no seu blog. Parabéns pelo texto e por toda análise!