Em Um Mundo Interior (Their Inner World) (Documentário); Direção: Flávio Frederico e Mariana Pamplona; Roteirista: Mariana Pamplona; Brasil, 2018. 75 Min.

O cinema, essa ágora escura, serve para todos os fins. Dos mais escusos, como a manipulação política, aos mais nobres, como trazer luz à questões que são tabus em nossas sociedades. Em “Cromossomo 21” se discute a Síndrome de Down e as possibilidades dos indivíduos com a síndrome irem além dos estereótipos e dos estigmas a eles imputados. Agora é a vez do autismo. Num trabalho de pesquisa que incluiu leituras, garimpagem de filmes americanos sobre a questão e consultas a a especialistas renomados da área, os diretores Flávio Frederico e Mariana Pamplona nos apresentam relatos de experiências e registros de cotidianos (familiar e escolar) desse indivíduos que têm uma maneira diferente de estar no mundo.

A partir de entrevistas com especialistas como psicólogos, psicanalistas, neurologistas, professores de Educação Especial, pedagogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, orientadores educacionais e terapeutas ocupacionais, os diretores de “Em Um Mundo Interior” montam um painel do que seja  a TEA (Transtorno do Espectro Autista) ocasionado pela deleção do cromossomo 22, logo, de origem congênita, cujos indivíduos afetados apresentam dificuldades de interação social, dificuldades comunicacionais como o entendimento de palavras de duplo sentido,metáforas, e figuras de linguagem e que possui um largo espectro, indo dos casos mais leves ao mais severos. Isso no âmbito da informação.

Sobre o aspecto de sociabilidade e progresso, a abordagem foi a de registro de cotidiano de crianças e adolescentes com suas famílias, seu dia-a-dia na escola, momentos de lazer e consultas com terapeutas ocupacionais, entrecortado com as informações técnicas de profissionais da área. Todo esse contexto é mostrado, vivido e analisado dentro da realidade brasileira num viés de avanço das potencialidades dos autistas, guiando o espectador na possibilidade de entendimento da questão do autismo, lançando luz sobre o tema, fomentando a reflexão e o debate sobre um transtorno que não é uma doença, mas uma maneira de  ser. Contribuindo para a diminuição do preconceito e da discriminação e despertando interesse sobre a questão. Em determinado momento do longa, nos é apresentado um trecho do curta-metragem “Carly’s Café”, uma obra audiovisual feita por Carly, uma autista severa e não verbal que insere o espectador no mundo do autista e na forma com a qual ela vê e sente o mundo. E é angustiante. Todos esses signos nos fomenta empatia e nos mostra a necessidade de conhecer mais sobre o transtorno.

“Em Um Mundo Interior” é indicado para pais, educadores, psicólogos e qualquer um que se interesse pelo humano e queira ampliar suas redes de significação sobre as diferenças. E é do Brasil. A gente ainda faz coisa boa, não é não?! Indispensável!