Funcionário do Mês (Quo Vado?) (Comédia); Elenco: Checco Zalone, Eleonora Giovanardi, Sonia Bergamasco, Lino Banfi; Direção: Gennaro Nunziante; Itália, 2006. 86 Min.
O filme de maior bilheteria da Itália dos últimos tempos não é um clássico, mas sim uma sátira política que versa sobre a desobrigação social do Estado (neoliberalismo), que critica os costumes bonachões e o temperamento esquentado dos italianos, desconstrói a hegemonia cultural e religiosa, faz uma ovação à liberdade sexual feminina e zomba do arcabouço sociológico do jeito de se fazer política no ocidente. “Funcionário do Mês” é uma comédia muito bem temperada sobre o modo de viver ocidental e capitalista.
Na história contada, o governo italiano está executando um programa de incentivo a demissões no funcionalismo público oferecendo indenizações polpudas. Quando chega a vez de Checco (Checco Zalone) ele não aceita e resiste. É transferido, então, para os confins da terra, para funções sinistras e perigosas. Mas sempre transforma a situação numa experiência positiva, irritando a Dottoressa Sironi (Sonia Bergamasco) que é a encarregada da pasta no ministério que executa o programa. Enquanto isso, Checco encontra o amor de sua vida, constitui família, etc.
Dirigido por Gennaro Nunziante de “Che Bella Giornata” (2011) e roteirizado por ele e Checco Zalone, o filme além de ter sido a maior bilheteria da Itália, quebrando o recorde de “The Little Prince”, ainda abocanhou o prêmio de melhor produção do Italian National Syndicate of Film Journalists 2016. Com trilha sonora, também de Zalone, que usa as canções em tom sarcástico, a história acontece em partes diferentes da Itália, de Milão à fronteira italiana; e do mundo: do Polo Norte à Africa. ‘Caricaturizando’ estereótipos locais que são estendidos a todas as outras culturas e fazendo analogias em cima de um mesmo fato: a má gestão de recursos. Checco Zalone e Gennaro Nunziante trabalham juntos a algum tempo. Todos os filme de Nunziante têm Checco como ator, inclusive usando seu próprio nome para o personagem, não seria esse o primeiro filme. Por sua vez Zalone é polivalente, é ator, roteirista e compositor e pelo jeito a parceria tem dado certo, pelo menos em Itália.
“Funcionário do Mês” é uma produção módica, com muitos figurantes e atores pouco conhecidos, tirando Sonia Bergamasco que tem um currículo mais extenso. Cheio de questionamentos, alfinetadas, paródias, autocríticas culturais colossais e veio político debochado, é mais voltada para o público italiano. Como o humor é cultural, talvez não rimos das mesmas coisas que os italianos. Provavelmente, por aqui, não bateria recordes de bilheteria, mas incomoda. Primeiro por não se detectar qual é o referencial, se a crítica é ao neoliberalismo ou se o autor a defende. Se é um questionamento à desobrigação social do Estado num momento em que a Europa passa por uma recessão e tanto, ou se é uma ovação à postura. Talvez tenha ficado mal costurado ou talvez o entendimento do cerne da questão fique para os italianos com os nós de suas redes de significações, e a nós caiba apenas rir. Porque engraçado é. E muito.
No melhor estilo “Borat” (2006) – deixe que eu zombe de mim primeiro antes que os outros o façam – “Funcionário do Mês” vai bem até roer a corda com o clichezão do bom caratismo gratuito só para não ficar mal na fita. Mas, mesmo assim, vale o ingresso.
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