Lembranças de Um Amor Eterno (La Corrispondenza) (Drama/Romance); Elenco: Jeremy Irons, Olga Kurylenko; Direção: Giuseppe Tornatore; Itália, 2016. 116 Min.
Giuseppe Tornatore dispensa apresentações prolongadas. Conhecido por “Cinema Paradiso” (1988) estreia no circuito com sua mais recente obra: “Lembranças de Um Amor Eterno”. No seu filme anterior “O Melhor Lance” (2013) Tornatore aborda o amor e a ausência em forma de mistério e numa perspectiva masculina. Em “Lembranças….” o mesmo argumento toma a forma de romance e numa perspectiva feminina. Como engrenagens que se completam os dois longas têm a marca de inteligencia e engendramentos de aspectos, desde os mais subjetivos aos mais objetivos (no primeiro, a restauração de obras de artes e seus indícios, no segundo a ciência), numa saga de analogias que mistura o comum ao inusitado, o conhecimento acessível ao conhecimento blindado, numa história sobre conexão entre um homem e uma mulher que vai além da vida.
Ed Phoerum (Jeremy Irons) é um astrofísico famoso que mantém um romance secreto há seis anos com sua aluna Amy Ryan (Olga Kurylenko). Um dia some e passa a comunicar-se por mensagem de texto, vídeos e cartas comuns. O argumento parece corriqueiro, e é. Mas, abordagem, não. Giuseppe Tornatore, que também roteiriza o longa, faz da oportunidade de versar sobre a conexão entre as pessoas através de sentimentos de afeto uma jornada de explicação metafórica simplista sobre como o universo funcionaria nesse aspecto montando um sistema de manutenção de contato genial através da vontade, e põe os imprevistos mais óbvios na conta dessa história, levando-os em consideração. E o faz de forma poética abordando variantes científicas e no território feminino, já que a perspectiva é a de Amy.
Se em “O Teorema Zero” (2013) Qohen Leth (Christoph Waltz) buscava arrumar a fórmula da teoria do caos, organizar o mundo, numa jornada muito bem metaforizada imageticamente, com um ludismo incomum. Em “Lembranças de Um Amor Eterno” o descontrole e o imprevisto são variantes constantes e postas na história de forma inteligente e como extensão do próprio movimento da vida. Quando Tornatore mistura astrofísica e múltiplas realidades com a subjetividade do conceito de amor, da conexão de afeto entre as pessoas, ele tira a noção infantilizada do romance e traz para um nível realista. De uma forma dissonante, meio forçada, mas procedente e que funciona. Em outra época o filme seria uma ficção científica. Hoje, com a popularização dos conceitos da Física Quântica e a mistura deles ao nosso cotidiano, a história se torna um romance palatável.
No cinema, ultimamente, tem estado bastante em voga as abordagens que tentam transpor imageticamente as variantes matemáticas dos acontecimentos cotidianos, numa empreitada bem sucedida. É isso que fazem, competentemente, Terry Gilliam em “O Teorema Zero”; Christopher Nolan em “Interestelar” (2014) e Tornatore em “Lembranças de Um Amor Eterno”. Os multiversos e as possibilidades de fabulações estão presentes hoje em abordagens populares da literatura aos quadrinhos, de palestras cotidianas em centros culturais ao cinema. Em “Um Reencontro” de Lisa Azuelos dá-se a mesma coisa de forma mais discreta e amena.
“La Corrispondenza” (no original) é uma oportunidade do espectador refletir sobre a conexão entre as pessoas através de uma analogia grandiosa do ser humano com as estrelas e do amor com a infinitude do universo. Não é uma abordagem romântica água com açucar à la Nicholas Sparks e sim uma forma potente para falar de amor para um público diverso. Quanto a Ucraniana Olga Kurylenko de “Um Dia Difícil”, a moça está com tudo e não está prosa. Afinal, contracenar com o Oscarizado Jeremy irons de “Trem Noturno para Lisboa“, ser dirigida por Giuseppe Tornatore e ter a atuação embalada pela composição de Enio Morricone, não é para qualquer um.
“Lembranças de Um Amor Eterno” é uma produção italiana com selo de qualidade Tornatore e vale o quanto pesa. Para quem gosta de um romance fora dos clichês e num contexto metafísico é uma boa pedida. Altamente recomendável!
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