Malala (He Named me Malala). (Documentário); Participantes: Malala Yousafzai, Ziauddin Yousafzai, Toor Pekai Yousafzai, Khushal Yousafzai e Atal Yousafzai; Direção: Davis Guggenheim; Emirados Árabes Unidos/USA; 2015. 88 Min.
“One child, one teacher, one book and one pen can change the world” (Malala)
“Malala” é o mais recente documentário do cineasta americano Davis Guggenheim, que conta a história do Prêmio Nobel da Paz mais jovem da história, Malala Yousafzai, de 17 anos. Produzido pelos Emirados Árabes Unidos, juntamente, com os EUA, o documentário tem três camadas mais obvias de abordagem. A da orientação educacional e familiar, com o fomento e direcionamento, para que ela fosse diferente; a da crença de Malala em suas ideias e a luta por suas convicções e a do chancelamento de organismos hegemônicos transformando a luta de Malala em algo para fora do âmbito educacional. Essas janelas são abertas no documentário de Davis Guggenheim a começar pelo título original “He Named me Malala”.
Malala é uma adolescente que foi baleada propositalmente pelas forças radicais do Islã dentro de um ônibus escolar em 2012, na aldeia de Swat Valley no Paquistão. E cuja história comoveu o mundo. O que Guggenheim faz é buscar a origem de toda essa história, e começa pelo nome, dado por seu pai; registra o processo de relato do cotidiano paquistanês por Malala para a BBC de Londres, sob pseudônimo, através de um blog; elucida o contexto de politização e engajamento do pai de Malala e sua influência sobre a mesma; e traça, ainda o caminho de institucionalização dessa imagem como a de um símbolo, culminando no discurso na ONU e no recebimento do prêmio Nobel da Paz em 2014.
Os instrumentos que Davis usou para contar essa história foram: sequências de Live Action criados pelo Instituto de Artes da Califórnia sob a batuta de Jason Carpenter, que auxilia no didatismo necessário ao entendimento das questões, as entrevistas com os irmãos, que desenham o ambiente em família, as entrevistas da própria Malala com perguntas agudas como: Seu pai não induziu você? e suas brilhantes e invejáveis convicções, aquelas que só os jovens têm.
Davis Guggenheim, ganhador do Oscar de melhor documentário por “Uma Verdade Inconveniente” (2006) soube amarrar muito bem os caminhos da criação de argumentos deixando janelas para ventila-las, que também servem para reflexões e questionamentos sem parecer arrogante ou manipulado. Porém, a grande e máxima contribuição para o documentário ser o que é vem da trinca de editores: Greg Finton, Brad Fuller e Brian Johnson, todos do olimpo. Greg foi indicado por melhor edição de documentário por “Waiting for Superman” (2010) no American Cinema Editors; Brad indicado ao prêmio da categoria no Cinema Eye Honors pelo documentário musical “Every Little Step” (2008); e Brian indicado ao mesmo premio por “Buena Vista Social Club” (1999) no American Cinema Editors e Satellite Awards. O cuidado de costurar o Live Action do mito Malalai – o histórico – com o Mito Malala em cinematografia é primoroso e suave. Ou seja o investimento em contar uma história imageticamente poderosa foi grande. A fotografia também está no pacote, ela é assinada por Eric Roland do National Geographic Explorer, que ganhou o Emmy pelo Doc “The Secret Life of cats” no New & Documentary Emmy Awards.
Pois é, ver “Malala” pede que seja com os dois olhos, o do romantismo que acredita num mundo melhor e no purismo, e o do criticismo. “Malala” é um produto da criação do mito Malala. Difícil não lembrar do mito de Mockingjay (Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1) em que todos os passos da criação da lenda são seguidos. E o mais bonito é que o herói acredita piamente na pureza de sua missão. O mito Malala, hoje, tem braços estendidos não somente para e educação, como também para a defesa do direitos da mulheres em todas as culturas ao redor do mundo, e por que não, combater o extremismo islâmico. Muito principalmente depois de abençoada com o aval das instituições hegemônicas representadas pelos comitês Sueco e Norueguês de reconhecimento de avanços culturais.
“Malala” é um belo registro da possibilidade de sonhar e fazer alguma coisa pelo mundo, circulando entre os ‘usos’ que podem ser feito disso pelos outros. O Documentário já ganhou o prêmio do público de melhor filme de gala no Festival de San Diego e foi indicado a melhor filme político no Festival de Hamburg. Numa frase? É uma obra perspicaz.
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