Memórias Secretas (Remember) (Drama /Thriller); Elenco: Christopher Plummer, Martin Landau, Dean Norris; Direção: Atom Egoyan; Canadá/Alemanha, 2015. 94 Min.
Dirigido pelo egípcio/canadense de ascendência romena Atom Egoyan, e estrelado por dois dinossauros do cinema: Christopher Plummer de “A Noviça Rebelde” (1965) e Martin Landau de “Intriga Internacional” (1959), “Memórias Secretas” é uma jornada de sobreposição de sentidos dos usos do que seja memória. A usa como aspecto histórico, como atributo fisiológico e como arma. Além de ser uma ode a astúcia. A cereja do bolo do longa-metragem é a narrativa e seus caminhos.
Zev Guttman (Christopher Plummer) é um octagenário que esteve em Auschwitz na segunda guerra e acaba de perder sua esposa. Max Rosenbaum (Martin landau) é seu amigo de longa data, também esteve no campo de concentração alemão e é cadeirante. Zev havia prometido que após a morte de sua esposa iria procurar o carrasco responsável pela perda de suas famílias, Otto Walisch. Porém, Zev tem severos problemas de memória. Max, então, faz-lhe uma carta manual de instruções que o guiaria até seu alvo. A saga de Zev é uma jornada de memória histórica e pessoal, e é muito bem administrada na narrativa através de signos pertinentes ao campo de concentração nazista e das metáforas imagéticas que promovem, entre o espectador e a personagem, uma empatia muito bem dosada e uma desconstrução na forma tradicional e fossilizada de vermos as histórias sobre o Holocausto. O longa faz uma quebra inteligente do lugar de onde vemos. Em relação a esse quesito nos remete a “O Filho de Saul” (2015) em que o espectador é inserido dentro de um campo de concentração, em detrimento da forma tradicional de ver a história, ou seja, de fora. Em “Remember” (no original) a quebra é também de lugar de ver. E essa sacada é sensacional porque nos faz questionar o conceito de verdade e refletir sobre a criação dela.
Apesar de grandes atores no elenco, os holofotes estão todos em cima do roteiro e da direção. A história e roteiro é de Benjamim August, pelo qual recebeu o prêmio canadense de roteiro original no Canadian Screen Awards 2016. Mais conhecido por atuação, produção e direção de séries de TV, Benjamim tem em “Memórias Secretas” seu primeiro roteiro para cinema. Sob a batuta do competente Atom Egoyan de “O Doce Amanhã” (1997) e “Ararat” (2002), o longa é eivado de códigos e detalhes que no desfecho explodem diante do espectador com toda uma coerência (dentro do arcabouço da história) que ao longo da exibição parece dissonância, fechando redondinho. Por tanto, o filme ganhou o prêmio Vittorio Veneto no Festival de Veneza e o Cinecolor Audience Award do Festival de Mar del Plata, além de outras 14 indicações. Quanto a trilha sonora assinada por Mychael Danna de “As Aventuras de Pi” (2012), também faz parte do roteiro, esboçando o rastro deixado para o entendimento da história quando insere além de Haydn e Beethoven, Mendelssohn e Wagner, os compositores preferidos de Hittler. Na fotografia Paul Sarrossy de “Exótica” (1994) é genial nas marcações de angulações de signos dos campos de concentração e nas metáforas de ausências inteligentes.
“Memórias Secretas” tem um roteiro brilhante, muito bem conduzido e que tira a narrativa do lugar comum de filmes sobre o Holocausto. Ainda promove um exercício de empatia que desconstrói uma série de premissas estabelecidas no imaginário cotidiano e desenha magistralmente o que é desejo de vingança e sede de justiça. “Memórias Secretas” é uma história original muito bem arquitetada com uma narrativa extraordinária.
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