O Mestre dos Gênios (Genius) (Biografia/Drama); Elenco: Jude Law, Colin Firth, Nicole Kidman; Direção: Michael Grandage; Reino Unido/USA, 2016. 104 Min.
O longa-metragem dirigido por Michael Grandage nos faz refletir sobre as mudanças no conceito de gênio ao longo da História. “Genius” ( no original) versa sobre o processo de escrita e edição de dois livros de Thomas Wolfe: Look Homeward, Angel (1929) e Of Time and the River (1935). Baseado no livro Max Perkins: Editor of Genius do aclamado Andrew Scott Berg, especialista em biografias, o filme conta a história da relação entre Tomas e Max, do processo turbulento de escrita dos livros de Wolfe e sua prolixidade, sua vida pessoal tempestuosa e sua maneira acelerada de atuar no cotidiano.
O contexto é a Nova Iorque do início do século, de 1929 a 1938, e a recessão que se abateu sobre a América após o crash de 29. O nicho, o literário. Famoso por haver apresentado ao mundo nomes como Ernest Hemingway e Francis Scott Fitzgerald, o editor Max Perkins penou horrores para editar as obras, severamente prolixas, de Thomas Wolfe. E esse processo é apresentado ao espectador da maneira mais direta possível, mas sem se descuidar do contexto da literatura americana e universal. Citando Proust, Flaubert, James Joyce e até Tolstói o longa se revela um delicioso paraíso para leitores ávidos pela literatura clássica moderna. Desfilam, ainda, pela história Scott Fitzgerald (Guy Pearce) e Ernest Hemingway (Dominic West). A abordagem sobre a forma com a qual esses gênios vêem o mundo, sua maneira de sintetizar isso em suas obras e o cuidado meticuloso do editor para não deformar o que ali foi posto é primoroso.
Roteirizado por John Logan de “A Invenção de Hugo Cabret” (2012), “O Mestre dos Gênios” traz essa subjetividade nos diálogos, na atuação de Jude Law e nas composições que embalam o longa escritas e regidas por Adam Cork num festival de jazz acelerado e perturbador. E ainda nos premia com um diamante tirado do baú: Flow Gently Sweet Afton de Jonathan Spillman, composta em 1873 (de-li-ran-te!). O filme respira subjetividades por todos os poros. A. Scott Berg além de autor da obra original foi um dos produtores o que deu uma certa fidelidade à obra, Michael Grandage, surpreendeu. Dirigiu, produziu e colaborou no roteiro, tudo isso no seu primeiro longa-metragem. Tanto empenho valeu a pena, o filme foi indicado ao melhor primeiro filme e ao Urso de Ouro do Festival de Berlim, não levou, mas é currículo. E para um estreante é uma façanha e tanto.
Na época em que gênios eram os inventores e os cientistas Thomas Wolfe ter sido agraciado com a alcunha, faz pensar. O filme se dedica em mostrar sua forma de raciocínio, as conexões de aspectos que tecia para expressar-se e sua linha poética de registro. Parece pouco, mas sentir, sintetizar, contextualizar e expressar com um viés poético, na velocidade, quantidade e qualidade com a qual Thomas Wolfe fazia, não é para qualquer um, mesmo habitando o panteão dos grandes da literatura. E esse foi o feito de John Logan e Michael Grandage, conseguiram abordar essas questões numa outra linguagem – a cinematográfica – competentemente. Gênio hoje seria um jovem que domine a tecnologia e invente uma empresa virtual que valha zilhões na bolsa de New York e que fature outros tantos antes dos vinte anos. O que nos remete a História das mentalidades, de como se via o mundo e quais conceitos eram válidos e validados em diferentes épocas . Ou seja, o filme é um pool de áreas, da literatura passando pela música, à Filosofia, História e por aí vai.
“O Mestre dos Gênios” tem um porém, seleciona público. É voltado para leitores que consomem literatura erudita, americana e universal. Esses se sentirão em casa com as piadas envolvendo James Joyce, Flaubert e Proust. Com destaque para a que cita Tostói e as intervenções editoriais. Aqueles saberão desfrutar da mais de uma hora e meia de que dispõe o longa. “O Mestre dos Gênios”, além de ser uma viagem pela primeira metade do século XX, desde o vocabulário, os valores, os costumes e direção de arte ( que é estupenda) o filme é comparável a “Hemingway & Gellhorn” (2012) dirigido por Philip Kaufman cujo nicho é o mesmo a produção literária de Hemingway e a produção jornalistica de Gellhorn que era correspondente de guerra e um clima de belicismo amoroso que dá gosto de ver. Vaticinando: “Genius” é genial!
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