O Roubo da Taça (Comédia/História); Elenco: Taís Araujo, Paulo Tiefenthaler, Danilo Grangheia, Stepan Nercessian, Mr. Catra, Milhem Cortaz; Diretor: Caito Ortiz; Brasil, 2016. 90 Min.
Co-produzido pela Netflix e premiado no Festival de Gramado “O Roubo da Taça” de Caito Ortiz é inspirado na história real do roubo da taça do tricampeonato de futebol mundial Jules Rimet, em 1983. Com floreamentos ficcionais que fazem do roteiro um show de bola e um trançado gostoso da ginga do samba e do futebol na narrativa da história, o longa-metragem, ainda, usa e abusa de referenciais televisivos da época.
A história todo mundo já conhece. Em dezembro de 1983 a taça Jules Rimet desapareceu do gabinete da presidência da CBF no Rio de Janeiro. Caito Ortiz e Lusa Silvestre a partir daí fazem um floreio ficcional que mistura os costumes populares da época, a crise econômica, os referenciais televisivos como a novela “Guerra dos Sexos” e a série de TV “Magnun” com Tom Selleck e nos transporta para a década de oitenta com o figurino de David Pirazzotti e a direção de arte de Fabio Goldfarb. Com fotografia de Ralph Strelow de “Redentor” (2004) que mistura imagens de arquivo das reportagens da época e da ficção(novelas); e a trilha sonora de Rica Amabis que é uma argamassa sensacional no roteiro, “O Roubo da Taça” se transforma numa experiência de memória para quem viveu aquela época.
Muito bem ancorado no gênero comédia, o longa é uma jornada pelo cotidiano do vendedor de seguros Peralta (Paulo Tiefenthaler) de “O Lobo Atrás da Porta” (2013), sua mulher Dolores (Taís Araújo) e seu comparsa Borracha (Danilo Grangheia) e suas táticas de sobrevivência. Para pagar uma dívida de jogo, Peralta e Borracha decidem roubar a Jules Rimet. Caricatos, os dois personagens levam o público a gargalhadas soltas com os links dos acontecimentos da época atravessados pelas tiradas relativas a futebol e misturados ao cotidiano. Da periferia à zona sul do Rio de Janeiro, o filme é uma viagem no tempo em relação à arquitetura da cidade e a disposição dos espaços e sua organização (em cenas de arquivo), e aos modelos de carros da época e ao figurino.
O destaque merecido vai para Paulo Tiefenthaler que está impagável como Peralta. Interpretação essa que lhe valeu o kikito de melhor ator no Festival de Gramado 2016. Além deste, o filme recebeu outros três kikitos: o de melhor roteiro para Lusa Silvestre e Caito Ortiz; o de melhor fotografia para Ralph Strelow e o de melhor direção de arte para Fabio Goldfarb. E ainda tem prêmio internacional, o filme abocanhou o prêmio da audiência no SXSW Festival, no Texas.
Ou seja, mirou-se no que viu e acertou-se no que não viu. Com uma história simples, engraçada, ficcionada em cima de fatos reais e com interpretações competentes “O Roubo da Taça” é mais uma produção brasileira para figurar no panteão das produções artísticas de relevância. O filme é uma ode à cultura popular atravessado pelo samba, futebol e muita malandragem.
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