Nota: este texto contém spoilers
O teorema Zero (The Zero Theorem). (Drama/ Fantasia/Ficção Científica). Elenco: Christoph Waltz, Melanie Thierry, David Thewlis; Diretor: Terry Gilliam. USA/Romenia/UK/França; 2013. 107 Min.
Título estranho para falar de um filme esquisito. A mais recente obra de Terry Gillian, que foi diretor e roteirista do grupo inglês Monty Python da televisão britânica, famosos por suas piadas, sacadas políticas e heréticas, no melhor estilo comédia sketch, humor surreal e nonsense, é “Teorema zero”. O filme não ficou para trás. Em relação ao surrealismo, é uma ficção científica que mistura matemática, física, filosofia, psicologia e fé. “Teorema Zero” é o ludismo do caos. Sim, a teoria do caos. Que é muito bem representada pelos cubos matemáticos do projeto do teorema zero.
É a história dos dilemas de Qohen Leth, interpretado pelo oscarizado Cristoph Waltz de “Django Livre” (2012) e “bastardos Inglórios” (2009), ambos dirigidos por Quentin Tarantino, sempre às voltas com sua identidade e com a necessidade de exercício de sua individualidade. Ele questiona o sistema de organização social, pergunta-se sobre o sentido da vida, sobre a morte e vive em crise existencial. Funcionário de uma empresa de tecnologia que quer descobrir o teorema zero da física ele é enviado para o setor de pesquisas para participar do projeto.
O enredo é atemporal e sem local determinado. A disponibilidade de signos para descrever o caos e a sua sensação está por toda a parte. Na desorganização da cidade, das instituições, das emoções e das crenças. O único lugar seguro é a mente do indivíduo. Mas, como em “1984” de Michael Radford, a liberdade de pensamento, expressão e o amor são proibidos, além da vigilância permanente de Management (Matt Damon) de “Identidade Bourne” (2002), que corresponde ao grande irmão que tudo vê, e cuja característica principal, é a camuflagem. A realidade e a virtualidade também fazem parte da costura no velho estilo “Matrix” (1999/2003) que, aliás, é homenageada numa fala entre Qohen e Bob (Lucas Hedger) de “Moonrise Kingdon” (2012).
A questão matemática é posta, ludicamente, através da construção do mundo com fórmulas exatas; as filosóficas são discutidas à exaustão: a liberdade só existe na imaginação, e imaginação é um lugar. A questão política é dada pelos ratos que sempre comem da mesa dos homens e sempre estão presentes em todos os ambientes, e pelo instrumento de destruição do sistema, um martelo. A fé é questionada e, a capacidade de criação do mundo pelo próprio homem é aventada. As simbologias são muitas, as pinturas das paredes da igreja, as estátuas dos santos católicos, os supercomputadores, a tecnologia, as discussões com a psicanalista Drª Shrink-rom (Tilda Swinton) de “Crônicas de Nárnia” (2005) e o amor virtual com Bainsley (Melanie Thierry). Todos esses elementos além de serem discutidos, são apresentados na mise-en-scène nos primeiros quinze minutos, numa bagunça metalinguística de exponencializar a atenção para fazer as conexões depois.
Terry Gillian dirigiu “Os 12 macacos” (1995), além de outros filmes de sucesso. Mas em “O sentido da Vida” (1983), para falar da obra que mais tem a ver com o “Teorema Zero”, ele apresenta as possibilidade de sentido que damos à vida somente para questioná-las: a ciência, a família, a religião, a política, a intelectualidade e até a morte entram na listinha. O trabalho é de uma riqueza filosófica de babar, e que Terry vem repetindo elevado ao cubo em “Teorema Zero”. Roteirizado por Pat Ruslain já ganhou o prêmio de menção especial no Festival de Veneza (2013)
O filme é difícil, seleciona público, além de ser um aulão de reflexão existencial. É pra quem gosta de física, matemática, filosofia e que tenha acuidade no olhar. Gillian não economizou, não fez por menos e nem teve misericórdia, fez da cabeça a câmera. Agora, é para ficar até o fim dos créditos porque ainda tem filme, e é a cereja do bolo.
Deixar Um Comentário