Olmo e a Gaivota (Olmo and The Seagull). (Documentário/Drama/Família); Elenco: Olívia Corsini, Serge Nicolai; Direção: Petra Costa e Lea Glob; Brasil/Dinamarca/França/Portugal/Suécia, 2015. 87 Min. #FestivalDoRio2015.
O documentário co-produzido por Brasil, Dinamaca, França, Portugal e Suécia “Olmo e a Gaivota” versa sobre a relação de uma mulher com a sua gravidez sob os aspectos emocionais, trabalhistas, e na relação do casal sob o formato de relatos cotidianos com muita sinceridade e poesia. E está na mostra competitiva da Première Brasil na categoria de Longa/documentários do Festival do Rio 2015.
Olívia (Olívia Corsini) e Serge (Serge Nicolai) são atores de teatro e estão ensaiando “A Gaivota” de Tchekhov em Paris, quando se descobrem grávidos. Não querem divulgar para os amigos até que a produção comunica uma turnê para New York e Toronto. E aí não tem jeito, há que se falar sobre o assunto, já que, pelo tempo, a gravidez estará de 4 a 7 meses. Em meio a tudo isso o estado interessante ainda se apresenta de risco exigindo repouso absoluto. A Arkadina de Theckhov tem que abrir mão de seu papel na peça e passar os longos meses acompanhando o sucesso do marido e seus ensaios em casa, numa via crucis para uma mulher moderna, independente e agitada, muito difícil. O relato é acompanhado de dentro da relação do casal e se revela uma viagem pela psiquê de Olívia.
O longa-metragem de Petra Costa de “Elena” (2012) e Lea Glob é uma mistura de vida real e encenação. A narrativa do período de vida em que Olívia está grávida e todo o processo é real, ela e Serge são um casal e falam sobre suas vidas. Assim como em “Homem Comum” o cineasta Carlos Nader interfere na documentação, em “Olmo e a Gaivota” Petra Costa faz a mesma coisa. E percebemos a interseção entre as duas modalidades de registro, a da vida real e do documentário, a realidade e a encenação dela. Encenar a vida real de uma atriz que o tempo todo vive atuando e ainda se questiona quando é que ela é ela mesma, é uma boa sacada para questionarmos não só a vida, como as modalidades de registros documentais, já que toda narrativa é uma versão. O espectador fica diante de um discurso direto/indireto em que ele também é contado como um intruso ‘convidado’ a voyeurizar toda a saga.
Escrito a 14 mãos entre autores da história/abordagem (Petra e Lea) os assessores (David Baker, Moara Passoni e Martha Perrone) e os consultores (Marie Regan e Franz Rodenkirchen) o roteiro tem como primor acompanhar um caso real documentando uma experiência em que os aspectos a serem abordados já estavam delineados. Outro primor é a trilha sonora que insere o espectador nas questões que desfilam à sua frente supervisionada por Mikkel Maltha de “Melâncolia” (2011) e “A Caça” (2012). Por tudo isso o prêmio Nórdico e Reel Talent do Festival de Copenhagen foram parar nas mãos de Petra e Lea, e ainda, o Junior Jury Award do Festival de Locarno.
Em “Olmo e a Gaivota” a história não é triste e sim reflexiva e em tom confessional sobre uma fase da vida de uma mulher e da relação dela consigo mesma nesse momento. O tema conquista, o trabalho está muito bem costurado e se apresenta como uma ideia brilhante que deu certo.
- Festival do Rio 2015 – Mostra Première Brasil: Competitiva longa/documentário.
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