Os Campos Voltarão (Torneranno i Prati) (Drama/Guerra); Elenco: Claudio Santamaria, Alessandro Sperduti, Francesco Formichetti, Andrea Di Maria, Camillo Grassi; Direção: Ermanno Olmi; Itália, 2014. 80 Min.
“O Inverno vai Passar, a neve vai derreter, os campos voltarão e tudo isso ficará aqui, ninguém mais se lembrará”
(Fala de um dos soldados entrincheirados)
O longa-metragem do diretor italiano Ermanno Olmi é dedicado a seu pai, que morreu na segunda Guerra Mundial, e é um fomento à memória histórica contra o trator avassalador chamado tempo. “Os Campos Voltarão” é um ato de resistência evocando os homens entrincheirados nas montanhas italianas pelos austríacos em 1917, na primeira Guerra Mundial. Noventa e sete anos depois do acontecido Olmi resolve contar a história em que todos os personagens existiram de fato e cujos acontecimentos são reais.
No alto de uma montanha um pelotão de soldados italianos está cercado pelos inimigos e sofrendo ataques e sobrevivem com quatro metros de neve acima de suas cabeças e com pouca comida. “Torneranno i Prati” ( no original) conta a história de homens comuns vivendo um momento singular em que a fome, a doença, a saudade e o medo são temperos sombrios. A narrativa contempla a subjetividade de cada um num estado de guerra. A maestria de Ermanno – que dirigiu e roteirizou o longa – está em abordar a alma desses homens. Ele o faz através da cantoria do soldado, da espera das cartas dos familiares, da logística da administração da comida, das fotografias das mulheres amadas pregadas nas paredes e nos estrados dos beliches, na solidariedade da dança e no martírio da tentativa de desarmar o inimigo. ‘Os campos Voltarão” não é um filme de guerra com pirotecnias bélicas, é um filme sobre a guerra mostrando homens comuns com suas grandezas e fraquezas.
Ermanno Olmi é mais afeito a documentários, mas tem no currículo ficções premiadas como ” O Posto” (1961) no Festival de Veneza; “A Árvore dos Tamancos” (1978) que ganhou a Palma de Ouro em Cannes; e “A Lenda do Santo Beberrão” (1988), leão de ouro em Veneza. Uma de suas características é o bom uso do silêncio e se tem em “os Campos Voltarão de forma poética a magistral. Tudo em “Os Campos Voltarão” é primoroso: os diálogos, as interpretações, o figurino, a trilha sonora assinada por Paolo Fresu de “O Vinho Perfeito” (2013) e a fotografia de Fábio Olmi. Por conta disso ganhou a fita de prata de melhor produção italiana do Italian National Syndicate of Film Journalists 2015 e o premio da crítica no Festival Internacional de São Paulo do mesmo ano.
“Os Campos Voltarão” presta uma homenagem àqueles homens e o faz como fomento de memória para que aqueles que ali viveram e o que ali passaram não fossem esquecidos. O filme foi apresentado pela primeira vez no aniversário do final da primeira guerra (04/11/2014) para o presidente da Republica Italiana e, simultaneamente, para outros cem países, dentre eles, os que participaram da guerra. A produção italiana em preto e branco mostra a estupidez da guerra e vaticina: “A guerra é um monstro que ronda o mundo inteiro e não para nunca”. “Torneranno i Prati” é para se ter na videoteca de casa para assistir de vez em quando. É uma obra-prima poética sobre a dor, a impotência e a grandeza humana.
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