Pasolini

Por | 2015-11-13T02:20:00-03:00 13 de novembro de 2015|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Pasolini (Biografia/Drama); Elenco: Willem Dafoe, Ricardo Scamarcio, Adriana Asti; Direção: Abel Ferrara; França/Bélgica/Itália, 2014. 84 Min.

“Pasolini” de Abel Ferrara, retrata as últimas 24 horas do cineasta, poeta e escritor italiano Pier Paolo Pasolini (1922-1975). Costurando com seus últimos afazeres em família, o roteirista Maurízio Braucci faz um patchwork, com as obras de Pasolini, com um recorte de uma entrevista, com seu posicionamento político,  com sua orientação sexual e suas opiniões. O longa é um registro caleidoscópico do que representou/representa Pasolini para o nicho cultural.

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Pier Paolo Pasolini foi o cineasta do choque com suas obras políticas e sexualizadas. Já era conhecido antes de entrar para a indústria cinematográfica. Já havia publicado poesias e inúmeros romances e ensaios, antes de escrever seu primeiro roteiro em 1954. Seus filmes eram chamados de blasfemos, como: “O Evangelho Segundo São Mateus” (1964); as adaptações eróticas de clássicos da literatura eram escandalosas, como: “Édipo Rei” (1967), “Decameron” (1971), “Os Contos de Canterbury” (1972); e ainda, sua mais controversa visão do marxismo, do ateísmo, do fascismo e da homossexualidade, foi exposta em “Teorema” (1968), no qual faz uma fusão de Benito Mussolini com o Marquês de Sade. Pasolini era tudo isso, um gênio multifacetado. Extremamente ativo cognitivamente e ao mesmo tempo um agitador de águas, um erudito que fazia conexões competentes, inusitadas, eivadas de um intelectualismo invejável.

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Nada disso ficou de fora do longa “Pasolini”. O poder de síntese de Abel ferrara é brilhante quando usa alguns trechos dos  filmes de Pasolini para pontuar seu estilo e explicar sua persona incômoda. São eles: “Saló ou 120 Dias de Sodoma” (1975); “Il Pratone del Casilino” – produzido pos-mortem (1996) baseado em seu  romance ‘Petrolio’ – e “As Bruxas” (1967) – baseado num trecho de seu texto ‘La Terra Vista Dalla Luna’; um trecho ficcionado de uma entrevista concedida para pontuar suas opiniões pessoais; trechos de notícias de jornais da época, concernente à política – a gestão do primeiro ministro Aldo Moro (1974-1976) –  e recortes de notícias sobre a homofobia na região. Além de pontuar sua rotina em família do café da manhã ao jantar com amigos em Roma naquele derradeiro dia 01/02 de novembro de 1975.

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Abel Ferrara é um diretor nova yorquino, que tem um competente poder de síntese. Seu último trabalho também foi uma cinebiografia, a do diretor de FMI  Dominique Strauss-Kahn em “Bem-vindos a New York” (2014). Com “Pasolini” além de dividir a ideia com Nicola Tranquilino de “Opus Dei” (2008), juntamente com o roteirista Maurizio Braucci de “Gomorra” (2008)  fez um passeio pelas múltiplas potencialidades de Pier Paolo Pasolini no espaçotempo de suas últimas 24 horas. O filme fecha redondo: roteiro, fotografia e trilha sonora. A fotografia de Stefano Falivene de “Uma Vida Comum” (2013) traz o lúgubre, o soturno através dos tons marrons,  do fosco e da escuridão. A trilha sonora faz uma viagem pela erudição de Pasolini, com destaque para “Una Voce Poco Fa” de Gioachino Rossini, trecho da ópera “O Barbeiro de Sevilha” na voz de Maria Callas. Não dá para não falar da atuação de Willem Dafoe como Pier Paolo, com seu rosto anguloso e empoderado pelos óculos, tão característicos do cineasta italiano, que trouxe a persona de Paolo para as cenas.

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O longa recebeu o prêmio de melhor filme da Sociedade Internacional de Cinéfilos (2015); e as indicações: melhor filme no Festival de Munique (2015), no San Sebastian (2014) e ao Leão de Ouro do Festival de Veneza (2014). “Pasolini” é o grito de que a hipocrisia humana matou um gênio e ainda mata muitos por aí. E a esperança de que olhando para os equívocos passados evitemos outros, além de ser um fomento de memória do cineasta italiano, considerado por alguns, um dos maiores poetas europeus do século XX. O filme de Abel Ferrara é forte e sensível, inteligente e potente.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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