Ponte dos Espiões (Bridges os Spies). (Biografia/Drama/História); Elenco: Tom Hanks, Mark Rylance, Austin Stowell, Amy Ryan, Alan Alda; Direção: Steven Spielberg; USA, 2015. 141 Min.
O filme “Ponte dos Espiões” conta a história de James B. Donovan (1916-1970), um advogado, oficial da Marinha dos EUA e negociador político que ficou famoso após defender um espião russo, Rudolf Abel, e mais ainda, quando o trocou pelo piloto americano Francis Gary Powers, feito prisioneiro em território russo. E em seguida se tornou um dos mais respeitados negociadores políticos dos EUA. Não é a primeira vez que a história de Donovan é contada. Em 1976 um filme de TV ” Francis Gary Powers: The True Story of U-2 Spy Incident” baseado na biografia de Powers escrita por Curt Gentry entrou em cartaz com James Gregory interpretando Donovan e Lee Majors interpretando Powers. Agora é a vez de Steven Spielberg contar essa história.
O recorte no tempo é de 1957 a 1962, um pequeno período na época da guerra fria onde a tensão era elevada a enésima potencia e a paranóia da espionagem era mais do que chavão político. James B. Donovan (Tom Hanks) é convidado/intimado pelo seu chefe Thomas Watters (Alan Alda) a defender o espião russo Rudolf Abel (Mark Rylance) depois que meio mundo havia se recusado a fazê-lo. Donovan perde a causa, mas consegue que não o condenem à morte e o mantenham prisioneiro para o caso de uma troca por prisioneiros americanos. A lei de Murphy funcionou e esse dia chegou. O longa de Steven Spielberg roteirizado pelos irmãos Cohen (Joel e Ethan ) monta um painel realista do momento da história: como a reconstituição da construção do muro de Berlim, o clima de tensão mundial e as negociações com toda a sua paranóia.
“Ponte dos Espiões” nos remete à “A Conversação” (1974) e a “A Vida dos Outros” (2006), mas tem a assinatura do Spielberg que não deixa barato em relação a tirar singeleza dos momentos mais duros. Só Spielberg consegue fazer uma cena de negociação de prisioneiros na guerra fria no Hilton da Berlim ocidental embalado por “Unforgettable” de Irving Gordon, sem destoar , nem perder a mão. Sob a batuta de outro cineasta possivelmente soaria dissonante. Outro aspecto interessante do filme são as analogias de momentos que são parecidos com energias diferentes ( as cenas no metrô; as do pular do muro; e a do ‘homem persistente’), só Spielberg consegue num filme político, cheio de tensão e, marcadamente, histórico encontrar espaço, competentemente, para a semente que conserva o amor – a admiração – ser lida nos olhos de uma esposa, Mary (Amy Ryan) que vela o sono do marido.
O longa em questão é um celeiro de premiados e uma promessa de mais prêmios. Os roteiristas são oscarizados e respeitados no meio cinematográfico e conhecidos por obras de peso, tais como “Onde os Fracos Não Têm Vez” (2007) e “Fargo” (1996). A fotografia é de Janusz Kamisnki de “A Lista de Schindler (1993) e “O Resgate do Soldado Ryan” (1998) pelos quais ganhou o Oscar. A Trilha sonora é de Thomas Newman de “Histórias cruzadas” (2011) e “007- Operação Skyfall” (2012). Fora o chamariz de público, Tom Hanks, que já virou marca de qualidade. Outro quesito importantíssimo no filme é a direção de arte impecável nas reconstituições históricas de Marco Bittner Rosser de “V de Vingança” (2005) e “Bastardos Inglórios” (2009); e Kim Jennings de “O Casamento de Rachel” (2008).
Steven Spielberg, esse dinossauro do cinema tecnológico, que traz singeleza e sensibilidade ao take mais frio, e que vai de “E.T – O extraterreste” (1982) a “Cor Púrpura” (1985); de “Império do Sol” (1987) a ” Jurassic Park” (1997); de “Minority report” (2002) a “Lincoln” (2012) continua com seu talento para as multifacetagens de gêneros e estilos de dar inveja. Com “Pontes dos Espiões” já abocanhou os prêmios de fotografia e de som do ano no Hollywood Film Awards e devem vir mais por aí.
Em suma, o filme-parceria com Joel e Ethan Cohen (direção e roteiro) conta uma história real, de forma inteligente com pitadas de ficção de modo a torna-lo comercial, mas que não perde nem o brilho nem o bom senso. Um filme em que a direção de arte é a menina dos olhos e o paradoxo do pavor e do afeto andam de mãos dadas no território da memória. Uma obra muito bem produzida que mistura a sordidez do exercício de poder com ternura daquele jeito adocicado que Spielberg desenrola muito bem. Tem cara de Oscar.
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