Quase Memória

Quase Memória

Por | 2015-10-17T04:10:22-03:00 17 de outubro de 2015|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Quase memória (Comédia); Elenco: Tony Ramos, Charles Fricks, João Miguel, Mariana Ximenes; Direção: Ruy Guerra; Brasil, 2015. #FestivalDoRio2015

O que é a memória? A lembrança do que, de fato, aconteceu?  ou uma versão, um dos lados de um prisma de várias faces? Um lampejo de lembrança é o mesmo visto de momentos diferentes da vida? Memória não seria uma invenção de acordo com as nossas redes de conhecimentos? Ruy Guerra, baseando-se na obra homônima de Heitor Cony faz um passeio por este lugar que achamos nosso, e questiona a realidade e a ficção.

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A partir de um contador de histórias num pântano, “Quase Memória” propõe uma dobra no tempo em que se encontram a mesma pessoa em momentos diferentes de suas vidas no mesmo espaço/tempo. Carlos (Charles fricks) em 1968 e ele mesmo (Tony Ramos) em 1994, e conversam sobre suas lembranças do pai (João Miguel), um jornalista pra lá de sortudo e bastante aventureiro que vivia num mundo fantástico de ilusões e fantasias. As lembranças são as mesmas vistas e revistas de épocas diferentes, questionadas, negadas, reinventadas sobre um pai e seus feitos. Enquanto isso Ruy Guerra remexe nossas memórias quando situa o AI-5 (1968) e a morte de Ayrton Senna em 1994, numa gravação original da notícia veiculada na época, e fomenta os modos diferentes com que cada um de nós se lembra ou não desses fatos, numa metalinguagem brilhante. E vai andando para trás no tempo com eventos históricos como a semana de Arte Moderna de 1922, dentre outros.

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O mote de “Quase Memória” é o questionamento da memória, a ficção que inserimos na lembrança, e  a diferença  entre as lembranças de um mesmo fato para pessoas diferentes, mesmo que essa pessoa seja a mesma quase trinta anos depois. Ruy Brinca com nossa invenções de realidade e questiona a realidade. E faz tudo isso em meio a muita poesia embalada pelas árias de Giácomo Puccini e Giuseppe Verdi na versão analógica, com todos os seus chiados sem remasterizações, metaforizando a viagem no tempo e jogando para o limbo as nossas memórias.

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Ruy Guerra, premiado diretor de “Kuarup” (1989) e “Estorvo” (2000) e que atuou em “Sangue Azul” (2014) de Lírio ferreira faz uma saga discursiva no espaço de um quarto no tempo de uma noite entre o mesmo indivíduo, em que as conversas são personagens principais. Charles Fricks e Tony Ramos batem um bolão num texto espetacular de divagação entre realidade e ficção, memória e invenção. E João Miguel, pra variar, dispensa comentários.

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Por tudo isso, “Quase memória” recebeu o prêmio especial do juri do festival do Rio 2015. É uma obra que seleciona público pela sua subjetividade e eruditismo musical. O Olimpo, da literatura às atuações, passando pela direção de Ruy  e pela abordagem, que é primorosa. Uma obra-prima.

  • Festival do Rio 2015 – Première Brasil: Competitiva Longa/Ficção

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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