Ressurreição (Risen). (Ação/Aventura/Drama); Elenco: Joseph Fiennes, Tom Felton, Peter Firth, Cliff Curtis, Maria Botto; Direção: Kevin Reynolds; USA. 2016. 107 Min.
Fechando a quaresma estreou no circuito um longa metragem que versa sobre a ressurreição de Jesus Cristo e o início da ideologia cristã num formato ação e aventura. O filme dirigido por Kevin Reynolds é uma arena de embates discursivos, de um lado a política de Pôncio Pilatos (Peter Firth) e de outro a ideologia do cristianismo em seu início. Um festival procedente de argumentações, uma guerra de retóricas, um palco de narrativas que partem do ponto de vista de quem não crê. Sem histrionismos religiosos (nem discursivos, nem imagéticos, nem metafóricos) o esteio do longa são as argumentações dentro de duas lógicas diferenciadas.
Após a crucificação de Yeshua (Cliff Curtis), Clavius (Joseph Fiennes) um tribuno romano da 10ª legião servindo na Judéia, é enviado por Pilatos para procurar o corpo desaparecido daquele que era chamado ‘rei dos judeus’, e evitar que os boatos sobre sua ressurreição se alastrassem. Para tanto mandou desenterrar todos os corpos mortos por crucificação num período de uma semana e instituiu interrogatórios com as pessoas que espalhavam os boatos e os que acreditavam neles. E é aí que o filme se torna o crème de la crème do jogo de retóricas. Apesar dos chavão de conversão no melhor estilo Saulo de Tarso ele se abre para perspectivas diferentes e perscruta a crença, a forma de pensamento, faz uma radiografia das diferentes lógicas e as põe numa arena. Sem imagetizações espetaculares e infantilizadas “Ressurreição” faz um passeio pelas necessidades humanas mais puras e atravessa o cristianismo aí. Ou seja, não subverte a lógica e apresenta um viés inteligente da conversão de forma igualmente inteligente. Sem deixar de ser evangelizador, o faz com sutilidade .
Suas construções físicas e engendramentos políticos nos remete à série de TV “Roma” (2005-2007). Muito bem produzido, desde a maquiagem dos ferimentos por morte em cruz, ao figurino de Maurizio Millenotti de “Hamlet” (1990) e “Otelo” (1986), passando pelo designer de produção sob a batuta de Stefano Maria Ortolani de “Gangues de Nova York” (2002), “Risen” (no original) apresenta a fina flor da argumentação com história e roteiro de Paul Aiello. Inspirada em fatos bíblicos, ousa coloca-los no território da política no sentido mais profundo da palavra. Com músicas de Roque Baños de “No Coração do Mar” e fotografia de Lorenzo Senatore de “300: A Ascenção do Império” (2002), “Ressurreição” é mais uma direção de Kevin Reynolds de “Robin Hood: O Príncipe dos Ladrões”(1991) que habita o território do lugar comum, mas que traz como diferencial o ponto de vista da abordagem, sem tomar partido nem de um lado nem do outro, e mais sem aviltar o cristianismo, é fiel à sua mensagem.
“Ressurreição” é um festival de narrativas e uma radiografia da individualidade das crenças e de seu processo de coletivização, sem tirar o espaço da dúvida. O longa de Kevin Reynolds é um desfile de perspectivas, uma evangelização inteligente que deixa crentes e descrentes satisfeitos.
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