Sem Amor (Nelyubov/Loveless) (Drama); Elenco: Maryana Spivak, Aleksey Rozin, Matvey Novikov; Direção: Andrey Zvyagintsev; Rússia/França/Alemanha/Bélgica, 2017. 127 Min.
O amor é um prisma de mil lados. Michael Haneke abordou de uma forma inusitada em “Amor” (2012); Paul Thomas Anderson o fez também com uma pegada bastante original em “Trama Fantasma”. Agora vem Andrey Zvyagintsev e fala sobre a falta dele com um viés genial, o da negligência sem mostrar o sofrimento do ser não amado, mas fomentando no espectador a dor dessa falta mostrando a ação de descuido e desleixo daqueles que deveriam amar. O tanto de sofrimento fica por conta da rede de significações do espectador através do que não é visto, mas imaginado.
Andrey Zvyagintsev é um cineasta russo que foi indicado ao Oscar por “Leviathan” (2014), uma história sensacional e muito bem costurada com aspectos diversos, falando sobre o conceito de justiça. Nesta edição da premiação mundial do cinema está novamente indicado por “Sem Amor” que conta a história de um casal, Zhenya (Maryana Spivak) e Boris (Aleksey Rozin) que está se separando e tem um filho de 12 anos, Alyosha (Mativey Novikov) triste, deprimido e por vezes agressivo, e não por acaso, rejeitado. Em nenhum momento se vê uma ação de cuidado por parte dos pais em relação ao menino. Cada um cuida de suas vidas, de seus trabalhos, suas carreiras e de seus novos amores. A falta que essa criança faz no cotidiano desses pais, que em nenhum momento lembram dessa criança incomoda o espectador. E é essa linha de falta e de interrogação que Oleg Negin (roteirista) e Andrey levam até o final.
Zvyagintesev, juntamente com Negin de “Elena” (2011) têm uma parceira de longa data e dessa vez resolveram contar uma história cujo desfecho e possibilidades de acontecimentos ficam por conta do espectador. Com uma trilha sonora assinada pelos irmão Galperine: Evgueni de “Versões de Um Crime” (2016) e Sacha de “Fragmentado” (2017); e uma fotografia dirigida por Mikhail Krichman de “Almas Silenciosas” (2010) – pelo qual ganhou o Sapo de Prata no Camerimage – o longa fecha redondinho no que se propõe. Sem exposição de violências ou agressões de forma tradicional – sem levarmos em conta que desprezo a um incapaz também é uma espécie de violência – a maior dor imposta ao espectador é a sugestão dada através da negligência. Diretor e roteirista põem o espectador no lugar da criança sem forçar a barra. E nos põe um ponto de interrogação na testa: E a criança? O forte da trama é a forma com a qual é contada.
Resumindo, Andrey Zvyagintsev se junta a Michale Haneke e Paul Thomas Andersom no talento de mexer com o espectador. Indicado ao Oscar na categoria de filme estrangeiro, disputa com o sueco “The Square” (favorito por ter ganhador a Palma de Ouro); O libanês “O Insulto”, um poderoso questionamento à cultura da guerra/guerrilha; ao húngaro “Corpo e Alma” de argumento e imagens fortes; e o chileno “Uma Mulher Fantástica” uma abordagem inteligente sobre resistência e identidade . Quem vai levar? Só a academia de Ciências Cinematográficas Americana sabe. Até lá – próximo final de semana – é esperar, não tem jeito. “Sem Amor” é um personagem conceitual para fazer pensar a responsabilidade e as consequências da maternidade e paternidade na vida dos pais e na dos filhos, e ainda, tem um viés de abordagem genial.
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