Unicórnio (Unicorn) (Drama); Elenco: Bárbara Luz, Patricia Pillar, Lee Taylor, ZéCarlos Machado; Direção: Eduardo Nunes; Brasil, 2017. 122 Min.
Com estreia mundial no Festival de Berlim 2018 ‘Unicórnio’ é poesia imagética na abordagem do armistício feminino entre mãe e filha na seara da sexualidade. Baseado em dois contos de Hilda Hilst: “O Unicórnio” e “Matamorros”, o longa é visual e sensorial, com poucos diálogos e uma aura bucólica. “Unicórnio” de Eduardo Nunes nos lembra “O Estranho que Nós Amamos” com pitadas de cor local, sotaque caipira e muitas metáforas procedentes.
Mãe (Patrícia Pillar) e filha (Bárbara Luz) vivem isoladas nas montanhas, numa cabana rústica, vivendo um cotidiano bucólico, quando aparece um homem (Lee Taylor) e se aloja nas redondezas. A partir daí a relações entre mãe e filha mudam. Esse é o mote para abordar a saída da segunda infância para a puberdade e a administrações de novas sensações, até então desconhecidas. A mensagem do filme inteiro está na primeira cena e sua lógica na última. A beleza do longa é forma com a qual as metáforas imagéticas são postas: a menarca, o desejo sexual e outras questões. Tudo isso registrado nas atuações silenciosas, numa fotografia magistral e numa trilha sonora envolvente que transmitem ao público essas questões de forma leve e singela, quase que traçando uma parábola bíblica sobre um jardim do Éden pós moderno.
Dirigido por Eduardo Nunes de “Sudoeste” (2011) e “5 Vezes Chico: O Velho e Sua Gente” (2015), “Unicórnio” mostra a percepção aguçada de Nunes para a poesia e subjetividade, principalmente, feminina, em cores. Os destaques vão para Bárbara Luz que está em seu primeiro trabalho na telona; a fotografia de Mauro Pinheiro Júnior de “Meu Amigo Hindu” (2015) e “Sangue Azul” (2014) e para a trilha sonora de Zé Nogueira.
A verve do longa é a abordagem do paraíso da infância à desestabilização da puberdade, da metáfora do fruto proibido ao amadurecimento real. “Unicórnio” é uma mistura de fantasia com uma realidade metafórica em que, através de pequenos detalhes e as linhas de fuga de possibilidades de significações, assevera a fluidez da produção de sentidos e brinca com possibilidades de entendimentos que só a poesia possui, imersos numa trilha sonora envolvente e numa fotografia que encanta. Logo, abre para a facilidade de assimilação daquilo que ali é posto epla sensorialiadade. No longa, as personagens não têm identidade, eles podem ser qualquer um de nós ou todos nós. Não há temporalidade, pode ser em qualquer momento da história da humanidade, e o assunto são questões iminentemente humanas inerentes ao âmbito animal de nossa existência. Pois é, já temos o nosso “O Estranho que Nós Amamos” e com vestígios de Hilda Hilst. Isso é para quem pode.
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