Victória e Abdul: O Confidente da Rainha (Victoria and Abdul) (Biografia/Drama/História); Elenco: Judi Dench, Ali Fazal; Tim Pigott-Smith; Direção: Stephen Frears; Reino Unido/EUA, 2017. 111 Min.
Baseado numa história real, registrado no livro escrito por Shrabani Basu a partir de escritos encontrados de Abdul Karim e outros exíguos documentos, o longa-metragem dirigido por Stephen Frears do magnífico “Ligações Perigosas” (1988), conta a história da amizade entre a Rainha da Inglaterra (Século XIX) e um indiano, a quem tomou como servo particular e posteriormente “munshi” – uma espécie de professor. Estrelado por Judi Dench, a abordagem é, basicamente, afetiva, mas também política. Já que a Índia estava, a época, sob a égide econômica e política da Inglaterra como uma colonia de exploração.
Com 62 filmes no currículo como diretor, Stephen Frears não se cansa de trazer abordagens inusitadas e com uma produção esmerilhada. Seu último trabalho foi “Florence: Quem É Essa Mulher” (2016) no qual trouxe à baila a história de uma socialite americana – Florence Foster Jenkis – que não via limites para suas vontades, uma delas a de ser uma cantora de ópera. Recursos, tinha. Mas, faltava-lhe talento. Stephen fez uma abordagem muito digna e humana de alguém que era risível à distância. Agora, o diretor embarca na história, não menos inusitada, de uma rainha que desenvolve uma relação de amizade e, até de intimidade, para os parâmetros protocolares da realeza, com um indiano muçulmano. O detalhe é que a ano é 1887, o país, a Inglaterra, em pleno exercício de seus desmandos colonialistas em território indiano. A amizade soa como uma afronta, um acinte diplomático por parte da índia para os aristocratas ingleses. O que Frears, juntamente com o roteirista Lee Hall, de “Billy Elliot” (2000) fazem é uma abordagem magistral.
O filme tem destaques poderosos, dentre eles a direção de arte de Sarah Finlay de “A Bela e a Fera” (2017) e de Adam Squires de “T2 – Transpotting” (2017), que é primorosa. E ainda, o figurino de Consolata Boyle, indicada ao Oscar duas vezes por: “Florence: Quem É Essa Mulher” e “A Rainha” (2006). Mas, não há como falar de “Victoria e Abdul” (no original) sem mencionar Judi Dench e Ali Fazal. Judi, Oscarizada por “Shakespeare Apaixonado” (1998) é uma diva que vai da franquia “007” ao projeto Theatre Live de Kenneth Branagh com louvor, que tem mais de uma centena de filmes em sua carreira e que, hoje aos 83 anos, dá um show de vida e competência; Ali Fazal é um ator indiano que iniciou sua carreira em 2009 em Bollywood e cujo trabalho mais conhecido é “Velozes e Furiosos 7”. A interação entre os dois atores é uma metáfora belíssima da própria história de Vitória e Abdul, a rainha e o plebeu, a diva do cinema e o recém aparecido vindo dos confins da Ásia para o mundo, Ali fazal. A química entre esses dois profissionais é sensacional.
sobre a História? É o mais comum dos argumentos, o que acontece a todos nós mortais, o encantamento entre dois seres humanos que, diferentes, veem no outro a possibilidade de aprender, de conhecer coisas novas. O diferencial é o protocolo real e uma aristocracia perturbada, um plebeu sonhador e todo um contexto de conquista territorial política e econômica de exploração e, só. Stephen Frears é competente em mostrar a fonte de riqueza de conhecimentos cotidianos que, nós seres humanos, somos para o outro, com realidades e perspectivas diferentes. A ode, no longa de Frears, é à diferença, e mostra como ela que nos completa; e, ainda, nos apresenta a interseção como sendo a igualdade como seres aprendizes, com indivíduos que vivem suas vidas cumprindo um papel e, com a obrigação de se relacionar uns com os outros. A imagetização que Stephen Frears promove da sede de alma que temos pelo outro é fantástica. Em contrapartida, na mesma linha subjetiva, nos mostra a crueldade e do que somos capazes para limpar todos os registros históricos de uma amizade tão interessante, do polimento social hipócrita e o que se esconde atrás dele com poucos takes de olhares. O trabalho sutil é simplesmente genial. Com “Vitória e Abdul: O Confidente da Rainha” a admiração, a necessidade e o apreço pelo outro é quase palpável. Assistir o filme é perceber o quanto Frears é detalhista e o quanto preconiza as peculiaridades de conexões entre pessoas e, ainda, o quanto nada é impossível. Vale o ingresso e o quanto pesa.
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