Virando a Página (The Rewrite). (Comédia/Romance); Elenco: Marisa Tomei, Hugh Grant, J.K. Simmons, Allyson Janney; Direção: Marc Lawrence; USA, 2014. 107 Min.
Mais um filme em cartaz no circuito que mistura literatura, cinema e a vida. Mas, desta vez de forma diferente, fazendo analogias entre a forma de escrita nobre do livro, a coloquialidade do roteiro de cinema e escrita da vida através das decisões. Uma rinha gostosa entre o ideal e o real. E ainda aventa possibilidade de ‘reescrita’ , essa mais afeita à vida. Uma história simples, o que poderíamos chamar de lugar comum das comédias românticas, mas que mescla o feminismo à la Jane Austen com a cafajestagem masculina, o devir da vida e as suas possibilidades de escolhas.
Keith Michaels (Hugh Grant) é um roteirista oscarizado que enfrenta seu inferno astral profissional. Sem trabalho e com as contas vencidas aceita a oportunidade de dar aulas de roteiro na Universidade de Binghamton. Sai de Los Angeles e vai para uma cidade pequena conhecer uma outra realidade, a de professor. De cara se desentende com a chefe do departamento de literatura Mary Weldon (Allyson Janney) especialista em Jane Austen. Então a celeuma entre a nobreza literária e a escrita para consumo rápido começa, misturadas a romances com alunas, quebra de regras institucionais e, é claro, um novo amor, Holly Carpenter (Marisa Tomei), já que o roteiro da vida de Keith não está nada arrumado. E essa é a questão central do filme, a analogia entre a vida e seus imprevistos e a amarração de um roteiro.
“Virando a Página” é dirigido e roteirizado por Marc Lawrence de “Letra e Música” (2007) e “Amor à Segunda Vista” (2002) e que tem no elenco os oscarizados Marisa Tomei por “Meu primo Vinny” (1992), J.K. Simmons por “Whiplash – Em Busca da perfeição” (2014), e o galã dos anos 90 Hugh Grant de “Quatro Casamentos e um Funeral” (1994) e “Um Lugar Chamado Nothing Hill” (1999). Na sua saga analógica entre o cinema e a vida nos remete a “O Crítico” (2014) de Hernán Guirschuny , também uma comédia romântica, em que um crítico cinematográfico, que encontra defeito em todas as histórias, não consegue dirigir e roteirizar a sua própria vida, que é uma tragicomédia de quinta, para usar os seus próprios parâmetros avaliativos. A questão da falta de controle e da possibilidade de mudança sempre, é a força motriz filosófico-existêncial da obra. O filme ainda brinca com clichês batidos como romance entre professor e aluna, conflito de gerações e o resgate da vida através do amor homem/mulher.
Em suma, “Virando a Página” é um filme de metalinguagem com um roteiro que fala de roteiros e roteiristas, e sua metáfora começa no título, tanto em português (salva de palmas para quem escolheu o título) quanto no original. “The Rewrite” e uma boa pedida para quem gosta de analogias narrativas, quer se divertir vendo uma comédia romântica pensando nos detalhes da vida que a fazem ser como é: uma eterna mudança de ideias e incertezas. E que no final tudo dá certo, porque se ainda não deu certo é porque não é o final, como num roteiro. Porém, na rinha entre a literatura de Jane Austen, o roteiro hollywoodiano e a vida, adivinha quem ganha?…Gracioso!
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