Visita ou Memórias e Confissões

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Visita ou Memórias e Confissões

Por | 2018-06-17T00:35:23-03:00 26 de setembro de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Visita ou Memórias e Confissões (Documentário/Biografia/História); Participações: Manoel de Oliveira, Maria Isabel de Oliveira, Diogo Dória, Teresa Madruga, Urbano Tavares Rodrigues; Diretor: Manoel de Oliveira; Portugal, 1982. 73 Min.

Manoel de Oliveira (1908-2015), cineasta português com 65 filmes no currículo, entre longas, curtas, documentários, ficções e séries de TV, foi detentor de 53 prêmios e teve, em sua carreira, 34 indicações. Manoel de Oliveira foi o que o podemos chamar de ícone da História do cinema. Falecido no ano passado com 106 anos de idade realizou seu sonho de trabalhar até o derradeiro dia. Seu último filme foi o curta-metragem “Um Século de Energia” (2015). Mas também deixou obras por acabar como os longas “A Igreja do Diabo”; “A Ronda da Noite” e “Vindimas”. Com 88 anos de serviços prestados à sétima arte, Oliveira assistiu a passagem do cinema mudo para o sonoro, do Preto & Branco para o colorido e acompanhou as transformações do cinema desde sua incipiência à tecnologia 3D, literalmente, uma testemunha ocular da História  do cinema. As novas gerações, possivelmente, o conheçam pelo longa-metragem “O Gebo e a Sombra” (2012).

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Em 1981, do alto de seus 73 anos, Manoel de Oliveira resolveu fazer um filme autobiográfico para ser lançado após o seu falecimento. Nele, Oliveira conta sua história, a de sua família e faz um inventário de sua vida profissional e pessoal a partir da casa em que viveu durante 42 anos com sua mulher Maria Isabel, e na qual criou seus filhos. O estopim para tamanho empreendimento de energia fôra a venda da casa. E a forma de contar essa história é, no mínimo, interessante: um casal de amigos de Manoel e Maria Isabel resolvem visita-los à tardinha e chegando à casa a encontram de porta aberta. Vão entrando e chamando pelos donos. Enquanto isso Manoel de Oliveira conversa com o espectador sobre a casa, os filhos, a mulher, a família, o cinema e suas lembranças em outros cômodos da casa. Na realidade, Manoel de Oliveira faz um esboço sobre a forma com a qual gostaria de ser lembrado. Muda de Cômodo, apresenta pessoas através de fotos e imagens de arquivo, enquanto o casal o procura fazendo um passeio pela casa vazia apresentando a versão deles dos espaços da casa e das histórias que os fazem lembrar. O casal e Manoel nunca se encontram. A ausência de Manoel é presença, é posta na película, mesmo ele estando nela. Ele ecoa como um fantasma dono de sua história e presente para sempre de outra forma, numa pegada narrativa muito sagaz. Principalmente, por sabermos que este filme aguardou 34 anos para ser lançado, seguindo fiel ao seu propósito, o de ser póstumo.

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O longa-metragem é um docu-drama roteirizado por ele e pela escritora portuguesa Augustina Bessa-Luis,nascida em 1922, romancista, dramaturga e prêmio camões de literatura de 2004. A fotografia é de Elso Roque de “O Rio de Ouro” (1998) com a tecnologia que se dispunha em 1981/1982. O restante a edição do próprio Manoel de Oliveira e de Ana Luisa Guimarães arrematam.

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“Visita ou Memórias e Confissões” é uma relíquia de registro de memória pessoal e  cinematográfica e que nasceu para sê-lo. Aguardando a mais de três décadas para cumprir o seu desígnio. O longa põe o espectador numa condição de onisciência difícil de se experimentar em outros filmes do mesmo estilo narrativo. Pois o que se sabe sobre o depois de feito o documentário é quase uma vida inteira de atuação no cinema. O longa se transforma numa viagem no tempo e num selo de zelo e de assertividade de Manoel de Oliveira em relação ao exercício de sua vontade. “Visita ou Memórias e Confissões” é uma experiência, no tempo, na História e na vida com seu movimento. Sem contar no prazer de ver Manoel de Oliveira com 73 anos falando sobre si com uma sinceridade ensaiada, uma certa discrição e até um naco de timidez. “visita ou Memórias e Confissões” é um filme testamento… testamento de alma. Sem igual!

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Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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