Confusina é uma senhora de 90 anos aposentada e cinéfila que procura atividades para fugir do Alzheimer. Tem uma amiga, também aposentada e cinéfila, D. Clemência de 65 com a qual vai ao cinema e com quem conversa sobre filmes. Numa dessas conversas…..
Por telefone:
– Alô, Clemência?!
– Sim.
-Tudo bem? É Confusina.
-Tudo bem, Confusina. E você? Qual a boa dessa vez?
– Vi Deadpool 2.
– Oi?! Aquele herói da Marvel que fala palavrão, zomba de todo mundo e é um péssimo exemplo?
– É, Clemência. Mas não é bem assim.
– Como, não bem assim? Desde quando você vê filmes de super heróis?
– Desde sempre, Clemência. Também tenho meus segredos. Eu lia os gibis para os meus filhos e agora me divirto com meus netos e bisnetos.
– Tá Confusina. E aí, o que achou?
– Não entendi muito bem. Mas uma coisa eu notei….
– O que Confusina?
– Você lembra daquele ator que fez aquela série de TV “O Homem que Veio do Céu” na década de 80?
– Não.
– O Josh alguma coisa.
– Não.
– Que fez “Anjos da Lei”?
– Não.
– Você está bem querida? Sempre foi rata de televisão e não lembra de nada. Olha o alemão, hein?!
– Sim, Confusina. Estou começando a achar que quem não está bem é você.
– Eu estou ótima e exercitando minha memória.
– Tá, Confusina. E daí?
– Daí que ele fez o Thanos em “Vingadores: Guerra Infinita” todo fantasiado de roxo para enganar os fãs e agora é vilão de Deadpool. Você não acha estranho?
– Que estranho, Confusina. O cara está trabalhando, ganhando uma fortuna. Estranho é você ficar tomando conta da vida dos outros e trocando as bolas todas.
– Ah! Não. Clemência, esse cara pode ser perigoso. Olha só, ele só trabalha em filme violento: “Assassinos na Estrada”; “Procurando Encrenca” “O Principal Suspeito”; “Meu irmão de Guerra”; “Um Plano Quase Perfeito”; “Fúria Urbana”; “O Homem Sem Sombra”; “A Garota Morta”; “Planeta Terror”; “Onde os Fracos Não Têm Vez”; “O Gângster”; “O Vale das Sombras” “Sin City: A dama Fatal” e por aí vai….eu acho que isso pode ser indício de psicopatia.
– Confusina, isso é indicio de sucesso. O cara é bem sucedido, é contratado pelos estúdios e só.
– Sei não, Clemência. A Marvel sabe que ele é o Thanos e o Cable ao mesmo tempo?
– Sabe, Confusina. Foram eles que contrataram.
– Disfarçado daquele jeito?
– Ah! Meu Deus! Confusina, você está me preocupando. Qual o seu problema?
– Nenhum. Eu só estou querendo entender porque alguém passa a vida inteira fazendo filmes desse tipo. Essa pessoa é quem deve ter problemas.
– Amiga, procura alguma coisa para fazer.
– Já arrumei. Olha só, nem a mulher dele aguentou, caiu fora.
– ???!!! Que mulher, Confusina?
– Ele não era casado com a Diane Lane de “Sob o Sol da Toscana”
– Confusina, pelo amor de Deus! O que tem a ver a vida pessoal do cara com os filmes que ele faz?
– Tudo. Você lembra daquele filme “A Viagem”….tudo está conectado.
– Confusina. Faz o seguinte: escolhe uma comédia romântica bem levezinha, me avisa que a gente vai juntas e conversa pessoalmente.
– Tá, Clemência.
Desligaram.
Dona Clemência pensa, então, consigo mesma – Confusina está cada vez pior. É melhor trocar o cinema pelo teatro.
Dona Confusina conversa com seus botões – Ainda bem que eu tenho a Clemência para treinar minha criatividade e fugir do alemão.
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