Todo o Dinheiro do Mundo

Todo o Dinheiro do Mundo

Por | 2018-02-12T15:50:04-03:00 12 de fevereiro de 2018|Adaptação: Literatura/cinema, Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Todo o Dinheiro do Mundo (All the Money in the World) (Biografia/Crime/Thriller); Elenco: Michelle Williams, Christopher Plummer, Charlie Plummer, Mark Wahlberg, Romain Duris, Timothy Hutton; Direção: Ridley  Scott; USA, 2017. 132 Min.

“Os ricos são os pobres dessa terra. Eles são uma minoria cuja desnutrição vem do espírito”  (Jean Paul Getty III)

Depois de todos os entreveros passados – afastamento de Kevin Spacey, pagamento de multas contratuais, contratação de Christopher Plummer e refilmagens, tudo isso a um custo de 10 milhões de dólares –  finalmente, o mais recente longa-metragem de Ridley Scott entra no circuito. Baseado numa história real “Todo o Dinheiro do Mundo” é um recorte de tempo na vida da família Getty, magnatas do petróleo. Mais especificamente, do julho a setembro de 1973, quando Jean Paul Getty III (1957-2011) foi sequestrado na Itália. Ridley Scott e David Scarpa, diretor e roteirista, respectivamente, se detiveram neste recorte e nesse episódio, mas com uma pegada filosófica existencialista sutil, cuja última cena é o crème de la crème do filme inteiro.

O enredo se resume  na barganha do preço do resgate do neto de Jean Paul Getty  (1892–1976) interpretado por Christopher Plummer, que era um arquimilionário do petróleo. Jean Paul Getty III (Charlie Plummer), neto do magnata, foi sequestrado na Itália aos 16 anos, e por conta de seu avô se negar a pagar o resgate, a mãe, Gail (Michelle Williams)  negociava com os sequestradores  barganhando o preço do resgate junto aos criminosos e com seu seu sogro. A história lembra o sequestro de Freddy Heineken retratado no filme “Jogada de Mestre” (2015) dirigido por Daniel Alfredson e estrelado por Anthony Hopkins, outra história real, que nos mostra os dois lados da situação, o dos sequestradores e o da família. A diferença entre eles é o viés condutor. Se nesta, o próprio Heineken faz as negociações e influencia os sequestradores e o viés condutor é o da persuasão usando a inteligência lógica; naquela, a família se vê num episódio que fomenta a mensuração de valores, a crítica sobre a monetarização da vida, num contexto de avareza e desconfiança que nos joga no colo das reflexões espirituais.

All The Money In The World

O filme é bom tecnica e filosóficamente. As atuações de Charlie Plummer como Jeam Paul Getty III é louvável, e a de Michelle Williams como Gail Harris, a mãe de Jean Paul, é magistral. Charlie é conhecido por “O Jantar” (2017) e “King Jack” (2015) e séries de TV e vem despontando como um ator promissor. Michelle Williams está em “O Rei do Show” (2017) e “Manchester à beira-Mar“(2016). Mas quem está indicado ao Oscar é Christopher Plummer, um dinossauro sagrado do cinema com 2014 créditos na carreira, cujo último filme proeminente foi “Memorias Secretas” (2015), uma obra inteligente e de arrepiar. Oscarizado em 2012 por “Toda Forma de Amor”, Plummer foi a cereja do bolo de última hora de “Todo o Dinheiro do Mundo”. A história foi roteirizada por Daniel Scarpa de “O Dia em Que a Terra Parou” (2008), a partir do livro de John Person. E todo o filme é um primor técnico, da direção de arte ao figurino.

Ridley Scott, diretor conhecido por filmes que marcaram a história do cinema como “Alien: O Oitavo Passageiro” (1979), é um profissional multifacetado que vai de abordagens bíblicas com em “Êxodo: Deuses e Reis” (2014) à futuristas como “Blade Runner: O caçador de Andróides” (1982), sem esquecer que “Thelma & Louise” (1991) é dele também. Com esse portfólio, Ridley Scott dispensa apresentações e tem um selo de qualidade próprio.


Resumindo, a pegada da abordagem em “All the Money in the World” (no original) é a de questionamento de valores e nos faz lembrar as palavras de João Paulo II “Tu te tornas o que contemplas”. A cena final é a síntese dessa frase memorável e é feita com um primor que define o filme inteiro. Vale a pena prestar atenção. Magistral!
 
 

Sobre o Autor:

Crítica cinematográfica, editora do site Cinema & Movimento, mestre em educação, professora de História e Filosofia e pesquisadora de cinema. Acredito no potencial do cinema para fomentar pensamento, informar, instigar curiosidades e ser um nicho rico para pesquisas, por serem registros de seus tempos em relação a indícios de mentalidades, nível tecnológico e momento histórico.

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