120 Batimentos Por Minuto

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120 Batimentos Por Minuto

Por | 2018-06-16T19:57:15-03:00 5 de janeiro de 2018|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

120 Batimentos Por Minuto (120 Battements Par Minute/ BPM (Beats per minute)) (Drama); Elenco: Nahuel Pérez Biscayart, Arnaud Valois, Adèle Haenel, Antoine Reinartz; Direção: Robin Campillo; França, 2017. 140 Min.

Agraciado com os prêmios da crítica internacional e  do júri no Festival de Cannes, e escolhido pela França a representa-la na festa mundial do cinema (Oscar 2018), mesmo não fazendo parte da short-list “120 Batimentos Por Minuto” é um primor em argumentação. Costura muito bem as premissas que propõe nos âmbitos do ativismo, de políticas públicas a reivindicações de direitos junto aos laboratórios franceses. Apresenta a organização do grupo Act Up de Paris no início dos anos 90 e entremeia tudo isso à vida pessoal e ao sofrimento de seus personagens. Através da ficção, Robin Campillo mostra o movimento de reivindicação dos soropositivos na França na era François Mitterrand.

Um grupo de jovens ativistas que defendiam a causa dos soropositivos no início dos anos 90, independentes de serem ou não soropositivos, reivindicavam junto ao parlamento francês a criação de politicas públicas que abarcassem as necessidades dos portadores do vírus HIV. Dentro desse contexto havia também a luta com os laboratórios em relação às pesquisas, seus prazos e custos. O que Campillo faz, juntamente com o roteirista Philippe Mangeot é mostrar cada âmbito dessa luta, da organização das estratégias da Act Up às avaliações das execuções, deixando claro que não era impensado ou irresponsável; das reivindicações governamentais às conversas e negociações com laboratórios; da história de contaminação de cada um às suas relações pós-contaminação; da saúde nas paradas gays aos passos do tratamento, ainda incipiente, e morte. O filme é longo, com pausas de descanso, de tanta tristeza e luta, através de  metáforas. Do ativismo que viabilizou a criação de políticas públicas relativas à causa e que pressionassem os laboratórios para que suas pesquisas fossem a tempo, transparentes e que as empresas afins fossem menos gananciosas, afinal se trata de saúde pública.

O marroquino Robin Campillo de “Eastern Boys” e roteirista de “A Trama” conheceu o movimento de perto à época e fez um trabalho esplendoroso com “120 Batimentos Por Minuto”. Pois, além de ser uma modalidade de registro histórico, à luz do olhar do cineasta, também éuma forma de ativismo do ativismo. Outro destaque vai para o argentino Nahuel Pérez Biscayart, o Sean, personagem principal; e, ainda,  a trilha sonora de Arnaud Rebotini que personifica a resistência para além da política, na vida. O que fecha a tampa é a fotografia de Jeanne Lapoirie de “Um Belo Verão” (2015).

O filme foi ovacionado no mundo inteiro. Só em Cannes foram três, além dos já citados, a Palma Queer. E ainda, melhor filme no San Sebastian e no Festival de Vancouver. A presença de Adèle Haenel de “A Garota Desconhecida” (2016) chama público. Mas, nem precisava, a história e a abordagem já fazem isso muito bem. O que vaticina a obra é a política e a poesia juntas. Apesar do contexto, o filme não é deprimente, é vivaz, faz pensar e nos diz que ativismo dá resultado sim. Vale o ingresso.

Sobre o Autor:

Crítica cinematográfica, editora do site Cinema & Movimento, mestre em educação, professora de História e Filosofia e pesquisadora de cinema. Acredito no potencial do cinema para fomentar pensamento, informar, instigar curiosidades e ser um nicho rico para pesquisas, por serem registros de seus tempos em relação a indícios de mentalidades, nível tecnológico e momento histórico.

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