45 Anos

Por | 2015-11-09T03:26:40-03:00 9 de novembro de 2015|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

45 Anos (45 Years). (Drama/Romance); Elenco: Charlotte Rampling, Tom Courtenay; Direção: Andrew Haigh; Reino Unido, 2015. 95 Min.

Ganhadores do Urso de Prata de melhor atriz e ator na última edição do Festival de Berlim, e indicado ao Urso de Ouro com o diretor Andrew Haigh, “45 Anos” se insere naquela premissa que diz que: “menos é mais”. Com closes e silêncios, o longa-metragem é um recorte de tempo de 5 dias antes da festa comemorativa dos 45 anos de casados do casal Geoff e Kate Mercer. E faz uma analogia desses cinco dias com as cinco décadas vividas de rotina de paz e felicidade em cima de segredos e silêncios, numa abordagem sutil, leve e ao mesmo tempo contundente.

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O roteiro versa sobre a  descoberta de um segredo guardado a cinquenta anos e que surge na vida do casal na última semana antes de suas bodas. Uma correspondência que diz que Charlotte (Dolly Wells), o primeiro amor de Geoff, que morrera soterrada numa montanha gelada havia sido encontrada. Não seria nada, se Geoff não se perturbasse profundamente, a ponto de ameaçar a estabilidade do casal e a confiança da relação. Kate diante das circunstâncias faz o que nunca fez em 45 anos, vai fuçar os guardados do marido e se depara com um segredo silencioso que se fizera presente nos 45 anos de sua relação, sem que ela soubesse. A analogia na história, dos dias com as décadas, mostra uma mulher feliz com seus enganos. fazendo tudo sozinha, sonhando a atuando na vida com prazer, felicidade e confiança. E um homem dedicado, silencioso e solícito. Um casal quase-perfeito em sua rotina sem filhos de 45 anos de casamento. E nos diz o quanto o coração alheio é território que ninguém visita, e o quanto a instituição casamento tem de segredos, silêncios e hipocrisia. E faz tudo isso com muita leveza, graça e lentidão.

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Andrew Haigh adaptou a história de David Constantine para o cinema e a sua maestria está direção dos olhares, das expressões e dos silêncios que dizem mais do que a própria história. A edição de Jonathan Albertis complementa facilitando o entendimento. A potencialidade do espectador que é exigida até o último momento é a atenção. A fotografia de Lol Crowley de “Um final de Semana em Hyde Park” (2012), pelo qual foi indicado ao prêmio máximo do Camerimage, é opaca, escurecida, fosca, com tons mortos, numa metáfora belíssima de uma relação que não se sabe, que não é límpida, que não é clara.

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O mote de “45 Anos” são as atuações da atriz inglesa Charlotte Rampling que além do Urso de Prata levou também o prêmios de melhor atriz nos festivais de Valladolid e Edimburgo; e de Tom Courtenay, o “pasha” de “Dr. Jivago” (1965) que lhe rendeu a indicação ao Oscar na época. O longa de Andrew Haigh nos remete a “Um Fim de Semana em Paris” (2013) de Roger Michell em que um casal vai comemorar as suas bodas em Paris sem um tostão e resolvem lavar a roupa suja. As histórias nos remetem a instituição casamento, seus altos e baixos, e seus braços ocultos advindos da personalidade de cada um e deixa o lembrete silencioso de que a instituição está mais para uma vitrine para os outros do que um acordo entre pares.  com merecidos prêmios pelas atuações e pela sutileza da abordagem,”45 anos” é uma metáfora da instituição casamento.

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Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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