5 Vezes Chico: O Velho e Sua Gente

>>5 Vezes Chico: O Velho e Sua Gente

5 Vezes Chico: O Velho e Sua Gente

Por | 2018-06-17T00:13:43-03:00 6 de dezembro de 2015|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

5 Vezes Chico: O velho e sua Gente. (Documentário); Participações: populações ribeirinhas; Direção: Gustavo Spolidoro, Ana Rieper, Camilo Cavalcante, Eduardo Goldenstein, Eduardo Nunes; Brasil, 2015. 90 Min.

“gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco.  gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranquilos e escuros como o sofrimento dos homens.” (Guimarães Rosa)

O documentário “5 Vezes Chico: O velho e sua Gente” é uma colcha de retalhos sobre o entorno do rio São Francisco, que corta o Brasil do sertão mineiro ao litoral nordestino. Realizado por cinco diretores de estilos distintos, olhares e abordagens diferentes, nos mostra a vida das populações ribeirinhas, os costumes, o sincretismo religioso, o cotidiano e a riqueza cultural que atravessa o Brasil seguindo o curso das águas do velho Chico. Foram 50 dias de viagem desde a nascente em Minas Gerais, passando pelos estados da Bahia e Pernambuco, até a foz entre Alagoas e Sergipe.

5xChico - cartaz

O olhar de Gustavo Spolidoro de “Ainda Orangotangos” (2007), em Minas Gerais, faz um passeio pela gestação do rio (licença poética), seu nascimento e apresenta alguns de seus personagens, aqueles que encarnam os costumes locais – os pescadores e suas histórias. Ana Rieper de “Vou Rifar Meu Coração” (2011), na Bahia, nos leva pelos caminhos do sincretismo religioso, da fé e o convívio das diferentes religiões. Camilo Cavalcante de “A História da Eternidade” (2014), em Pernambuco, nos apresenta o quintal do rio São Francisco, o cotidiano das famílias e a preocupação com a escassez dos peixes e, por conseguinte, de sua sobrevivência. Eduardo Goldeinstein de  “Corda Bamba, a História de uma Menina Equilibrista” (2012), em Sergipe, nos apresenta o trecho mais político do documentário, o do cangaceiro 29, um sergipano aficionado em Lampião que discute as questões coronelistas da região. E Por fim, Eduardo Nunes de “Sudoeste” (2012) nos leva pelas águas do terceiro pai, num caminhar poético para a morte do rio no mar sob o olhar do homem local, Seu Heleno, e no declamar da poesia de Guimarães Rosa.

FRAME_5xChico_66

O longa, apesar de realizado por cinco diretores  mantém sua unissonidade. O espectador comum não percebe onde termina um trecho e começa outro. Quem tem um olhar mais treinado percebe a diferença da abordagem, mas é tudo muito bem costurado. Diferente de “A Aula Vazia” de Gael Garcia Bernal em que onze diretores versam sobre os aspectos do tema central e os põe estanques uns dos outros divididos por créditos, em “5 Vezes Chico: O velho e sua Gente” os elos são imperceptíveis transformando essa viagem imagética numa jornada afetiva pelas águas e pelas histórias das comunidades ribeirinhas. O roteiro de Izabella Faya e a edição de Flavio Zettel de “Cafuné” (2005) são os eixos sob os quais a estrutura do documentário se dá. Mas a menina dos olhos da obra é a gente do rio São Francisco.

FRAME_5xChico_70

“5 Vezes Chico: O velho e sua Gente” é um longa metragem constituído por diversos olhares, por uma gente diversa, que desenha um painel cultural, econômico e político sem deixar de ser poético. É uma ode ao rio São Francisco e uma alerta discreto de preservação.

FRAME_5xChico_57

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

Deixar Um Comentário