A Bruxa

Por | 2018-12-23T04:04:42-03:00 3 de março de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

A Bruxa (The Witch: A New-England Folktale). (Horror/Mistério); Elenco: Anya Taylor-Joy, Ralph Ineson, Kate Dickie, Harvey Scrimshaw; Direção: Robert Eggers; USA/Reino Unido/Canadá/Brasil, 2015. 92 Min.

O filme de terror que ganhou o prêmio de melhor direção no Festival de Filmes de Sundance é ambientado no século XVII, nas colônias de povoamento da América – Nova Inglaterra – e baseado em relatos documentais da época. “A Bruxa” é um passeio pela mentalidade dos colonos, suas crenças e seu imaginário.

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Em 1630 uma família é expulsa de um povoado e resolve se estabelecer na entrada de uma floresta. William (Ralph Inerson), Katherine (Katie Dickie) e seus cinco filhos. Protestantes fervorosos, vêem coisas estranhas acontecer e seu modo explicativo é um só: as forças do mal personificadas através de bruxaria. Primeiro desaparece o bebê, depois chega a fazenda um bode, em seguida Caleb (Harvey Scrimshaw), um do filhos, desaparece em uma caçada e volta possuído. Em todos esses episódios a culpa recai sobre a filha mais velha Thomasin (Anya Taylor-Joy). O longa-metragem é um conto popular do século XVII que mapeia a mentalidade local da época e o imaginário social acerca de magia negra, crenças e possessões. A Maestria do diretor Robert Eggers está em não emitir juízo de valor e não fechar conclusivamente, apenas imagetizar os relatos ancorados no contexto das crenças.

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“The Witch: A New-England Folktale” (no original) foi dirigido e roteirizado por Robert Eggers e teve um trabalho de direção de arte, decoração de set e figurino muito bem cuidados reconstituindo a vida cotidiana dos colonos americanos da época. A história faz parte de uma série de relatos que desembocaria 60 anos depois no julgamentos das feitiçeiras de Salém em 1692, em Massachussetts. E nos põe diante da capacidade humana de tornar realidade o que acredita. Sendo uma produção americana conta com Reino Unido, Canadá e Brasil como co-produtores, e nesse contexto se destaca Rodrigo Abreu Teixeira de “O Cheiro do Ralo” (2006).

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O longa-metragem em sua constituição tem as pontas soltas e para quem está acostumado com o velho arcabouço de filmes de terror vai se sentir desconfortável e, possivelmente, decepcionado. As premissas do filme são retóricas e argumentativas,  são uma arena de persuasão, mais do que imagéticas. E isso, além de respeitar os relatos, possibilita ao espectador chegar à suas próprias considerações. Quem pertencer à seitas verá um filme, quem for protestante verá outro filme, quem for agnóstico da mesma forma, ateu, ainda outro filme, Ou seja,  “A Bruxa” acaba sendo uma versão imagética de Boris Karloff contando uma história, onde o ouvinte segue a linha pontilhada e  preenche as lacunas com suas significações.

bruxa2Para quem gosta de argumento bem costurado e tudo mastigadinho é perda de tempo, mas para quem quiser ter noção da mentalidade de uma época, no que as pessoas acreditavam através de seus relatos e das possibilidades da mente humana é uma boa pedida.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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