A Festa de Despedida (Mita Tova/The Farewell Party). (Comédia/Drama); Elenco: Ze’ev Revach, Levana Finkelstein, Aleza Rosen, Ilan Dar, Raffi Tavor, Yosef Carmon, Hella Sarjon; Direção: Tal Granit, Sharon Maymon; Israel/Alemanha,2014; 95 Min.
O cinema israelense deu o ar da graça nos festivais de filmes de 2014 e fez bonito com “A Festa de Despedida” de Tal Granit e Sharon Maymon, que além de dirigirem também o roteirizam, usando o espaço da ágora escura para pensar as questões da eutanásia. A dupla de roteiristas versa sobre a morte digna, o direito da escolha e atravessa questões éticas com muito humor, e o mais importante, ternura.
Ao contrário do que possa parecer não é um filme pesado, é inclusive, extremamente engraçado. Yehezkel (Ze’ev Revach) é um inventor e é cardíaco, sua mulher Levana (Levana Finkelstein) tem Alzheimer; Yana (Aliza Rosen) tem o marido internado em estado terminal e que pede para que acabem com seu sofrimento. A partir daí Yana procura Yehezkel para ajuda-la. No grupo entra também Dr. Daniel (Ilan Dar) que é veterinário, que chama seu amante Raffi (Raffi Tavor) que é anestesista. Montado o grupo de alívio do sofrimento, a história se desenrola com as questões éticas ( quem vai fazer? como fazer o próprio paciente realizar a ação diminuindo a responsabilidade alheia, o uso da misericórdia e o surgimento de um possível ramo de negócios), a questão da dignidade, do direito de escolha, da administração de um corpo que já não corresponde às necessidades da vida. E faz um link brilhante entre as formas de ver as mesmas circunstâncias de acordo com a idade e com o lugar em que se está; entre o começo da vida e o fim, quando contrapõe a netinha de Yehezkel aos avós brincando. E tem ainda os únicos idosos saudáveis, que são gays e não se assumem, que mesmo vivendo não o fazem com plenitude. Todas essas questões aparecem através de conversas e discussões à medida que as situações surgem.
A menina dos olhos do longa-metragem é a abordagem. O assunto é sério, é tratado com seriedade, mas é envolto numa aura de humor, cuja conexão é o paradoxo de todas as ações humanas. Tudo isso metaforizado através da fotografia de Tobias Hochstein, em que, mesmo o tema sendo lúgubre a fotografia brilha, ela é solar e de uma luminosidade que dá lugar a leveza, a abordagem dos momentos mais mórbidos são cobertos de tons de azul, dando uma sensação de calma e tranquilidade propositais. A música é uma ode à cultura israelense, inserida na trilha sonora original assinada por Avi Belleli da série de TV “Em Terapia”, totalmente filmado em Jerusalém dá contexto ao hebraico ouvido por 95 Minutos.
Os diretores/roteiristas Tal Granit, marinheira de primeira viagem em longa-metragens e Sharom Maymon, esse premiado em festivais e conhecido por “A Matter of Size” (2009) foram ovacionados mundo afora com o longa. Da Academia de Filmes de Israel receberam os prêmios de melhor ator para Ze’ev Revach; melhor fotografia, melhor maquiagem e melhor música; no Festival de Veneza 2014 o prêmio do público e o Brian award; no Valladolid, melhor filme e mais 11 indicações.
“A Festa de Despedida” é uma mistura vem sucedida de “Amor” (2012) de Michael Haneke e “O Ciclo da Vida” (2012) de Yang Zhang. Um patchwork maravilhoso para pensar a questão da eutanásia entre lágrimas e gargalhadas, como na vida. Estupendo!
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