A Forma da Água

A Forma da Água

Por | 2018-06-16T19:54:16-03:00 4 de fevereiro de 2018|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

A Forma da Água (The Shape of Water) (Aventura/Drama/Fantasia); Elenco: Sally Hawkins, Richard Jenkins, Octavia Spencer, Michael Shannon, Doug Jones; Direção: Guilhermo del Toro; USA, 2017. 123 Min.

Indicado a 13 Oscars, perdendo apenas para “A Malvada” (195o) e “Titanic” (1997) – que tiveram 14 indicações cada –  “A Forma da Água” é uma releitura de “A Bela e a Fera” numa mistura de “Creature From the Black Lagoon”(1954) de Jack Arnold e “The Amphibian Man” (1962), uma produção soviética dirigida por Vladimir Chebotaryov e Gennadiy Kasanskiy. O roteiro é linear, o estilo é de fábula romântica e a pegada artística nos lembra o filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” (2001). Com referências como Forrest Gump” (1994) e “O Mágico de Oz” (1939), o longa traz ainda conexões com clássicos da era hollywoodiana, através de trechos dos filmes: “Nas Águas da Esquadra” (1936); “Amores Clandestinos” (1959) e “A Mascote do Regimento” (1935), entre outros. Sem falar em Carmen Miranda cantando “Chica Chica Boom Chic”. Ou seja, o longa é uma colcha de Patchwork com uma campanha muito bem feita ao Oscar 2018.

Na história, uma funcionária de serviços gerais, solitária e muda, Elisa (Sally Hawkins), que trabalha num agência de inteligência americana (em plena guerra fria), no setor de assuntos confidenciais, presencia a chegada de um homem anfíbio (Doug Jones) ao laboratório. Maltratada e arisca, a criatura fica sob os cuidados do Dr. Strickland (Michael Shannon). Elisa, compadecida de sua situação e vendo-o em eminente perigo, desenvolve, por ele, afeto e decide ajuda-lo sequestrando-o do laboratório para sua casa com a ajuda do Dr. Hoffstetler (Michael Stuhlbarg). O desfecho é previsível e acontece em forma de poesia imagética com muita suavidade.

29/09/2016. Credito: Fox Searchlight Pictures/Divulgacao. Filme A Forma da Água (The Shape of Water), novo filme de monstros dirigido por Guillermo del Toro.

O argumento é de Guilhermo del Toro que, juntamente com a roteirista Vanessa Taylor – produtora de “Games of Thrones” e roterista de “Divergente” – desenvolvem a história inspirados em “Creature From The Black Lagoon”. O grande destaque é a fotografia assinada pelo dinamarquês Dan Lautsen de “A Colina Escarlate” (2015) que nos remete a “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain” (2001) pelo seu tom esverdeado e por outros aspectos como: figurino e abordagem do fantástico/extraordinário. A direção de arte de Nigel Churcher de “Homem-Formiga” (2015) arremata o estilo. A Trilha sonora é do mestre Alexandre Desplat mega-indicado a Oscars e ganhador por “O Grande Hotel Budapeste” (2014). Quanto à criatura, ela é interpretada por Doug Jones, que está acostumado a atuar escondido atrás de roupagens exóticas. Ele foi o surfista prateado em “Quarteto Fantástico e o Sufista Prateado” (2007) e o fauno em “O Labirinto do Fauno” (2006), também dirigido por Gulhermo del Toro.

Com 73 premiações, dentre elas o Globo de Ouro de Melhor diretor e o Leão de Ouro do Festival de Veneza de Melhor filme e, mais 232 indicações, dentre elas 13 são para o Oscar (filme; diretor; atriz para Sally Hawkins; Atriz coadjuvante para Octavia Spencer; ator coadjuvante para Richar Jenkins; trilha sonora, roteiro original, fotografia, figurino, edição, edição de som, mixagem de som e  designer de produção), “A Forma da Água” tem um excelente currículo a caminho do Oscar, o que se traduz numa excelente campanha. Isso sem falar que Guilhermo del Toro é o único da trindade latina (Iñarritu e Cuarón) que ainda não ganhou um Oscar. Apesar da concorrência pesada na categoria de diretor (Christopher Nolan, Jordan Peele e Paul Thomas Anderson) e filme (Dunkirk, O Destino de uma nação e Corra!), tudo pode acontecer.

Superestimado, “A Forma da Água” é um festival de falta de criatividade e um show de fotografia. A roupa do homem anfíbio é uma versão tecnológica do “Creature From the Black Lagoon”; a abordagem é a mesma do “The Amphibian Man”  trocando as perspectivas, neste é a criatura que se apaixona pela musa Gutiere (Anastasiya Vertinskaya), em “The Shape of Water” (no original) é a musa, Elisa, quem se apaixona pela criatura. Neste aspecto ser considerado roteiro original subestima um pouco a inteligência do espectador. Isso é, no mínimo, inspirado em.

“A Forma da Água” é um filme do gênero fantástico que deixa a desejar, inclusive, em relação a “O Labirinto do Fauno” que é do próprio diretor, o que demonstra não haver conseguido repetir a façanha. Tem um viés de abordagem superficial, sem camadas sobrepostas, embora tenha tentado quando associa o Dr. Hoffstetler a espiões russos, mas fica por aí e morre na praia. Esse feito da abordagem com camadas de assuntos e aspectos, vemos brilhantemente em “O Fabuloso Destino de Ameie Poulain”. Apesar de tudo, trabalha bem a arte cinematográfica e se propõe a homenagear, discretamente. o cinema. Dois exemplos de filmes que pisam no mesmo território, o da fantasia, o do mundo aquático e dos monstros com muito bom sucedimento são:”Tudo sobre Vincent” (2014) de Thomas Salvador, que tem uma abordagem no gênero fantástico e é muito mais criativo, original e com camadas sobrepostas de assuntos que dão uma excelente análise, e com simplicidade; o outro é “A Nona Vida de Louis Drax” outra história do gênero fantástico, sensacional, com um monstro marinho e que é  estupendo na abordagem. Isso só para dizer que tem como fazer algo tão extraordinário, como o que se diz que há em “A Forma da Água”, com menos. Na realidade, assistir ao longa do Guilhermo del Toro é  chupar bala com papel. Leve, superficial, bonito e superdimensionado… tem cara de Oscar. Como ia dizendo…..Bela campanha, Fernandinho! Ops…Guilhermo.

Saiba mais:

Assista aos filmes originais completos que, possivelmente, tenha inspirado “A Forma da Água”:

Sobre o Autor:

Crítica cinematográfica, editora do site Cinema & Movimento, mestre em educação, professora de História e Filosofia e pesquisadora de cinema. Acredito no potencial do cinema para fomentar pensamento, informar, instigar curiosidades e ser um nicho rico para pesquisas, por serem registros de seus tempos em relação a indícios de mentalidades, nível tecnológico e momento histórico.

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