A Frente Fria que a Chuva Traz

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A Frente Fria que a Chuva Traz

Por | 2015-10-11T14:35:39-03:00 11 de outubro de 2015|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

A Frente Fria que a Chuva Traz. (Drama); Elenco: Bruna Linzmeyer, Juliane Araújo, Flávio Baruqye, Mario Botolotto, Michel Melamed; Direção: Neville D’Almeida; Brasil, 2015. 80Min. #FestivalDoRio2015

O cineasta de “Dama do Lotação” (1978) está de volta depois de 19 anos de seu último filme, “Navalha na Carne”(1997), seu novo trabalho é “A Frente Fria que a Chuva Traz”. Se em “Rio Babilônia” (1982) o morro descia para o asfalto e as festas regadas a muito sexo, drogas e Rock and Roll aconteciam nas mansões cariocas, em “A Frente fria que a Chuva Traz.” Neville D’Almeida inverte o jogo, quem sobe o morro é a burguesia, para falar de alienação burguesa, falseamento da realidade, do vazio da vida, do dinheiro como referencial para a felicidade. E ainda, questionar o conceito de felicidade e o de cidade maravilhosa.

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Gru (Flávio Bauraqui) é um feliz proprietário de uma laje numa favela carioca com uma vista privilegiadíssima. Um grupo de playboys moradores do asfalto alugam a laje de Gru para realizar festinhas regadas a muita bebida, drogas e muita sacanagem. Todos classe média alta, menos Amsterdã (Bruna Linsmeyer), uma prostituta que para manter seu vício em drogas se submete a tudo, mas não sem questionar. E ainda tem o Ninguém (Mario Bortolotto) um segurança caladão que faz a ponte com a realidade (se ela existir). Ali, brincando, são metaforizadas as relações sociais verticais entre as classes e as formas de ver o outro e a vida, e mais, a insuportabilidade da vida como ela é e a necessidade de anestesias e enganos, além de ser um grande sinalizador da alienação burguesa, tanto a política quanto a existencial.

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“A Frente Fria que a Chuva Traz”  é uma livre adaptação da peça teatral de mesmo nome de Mário Bortolotto e que nas mãos de Neville ganha tons ácidos bem intensos quando aborda a síndrome da burguesia alienada que faz valer o poder do vil metal num tratamento de cima para baixo, mesmo em território alheio. E não fica restrito à burguesia, também aborda os emergentes. Isso se dá através da personagem Raposão (Michel Melamed), um cantor sertanejo que foi da comunidade e que age igual ou pior que o burguês, a partir do momento em que não pertence mais à comunidade e vive outra vida. No filme de Neville a força do capitalismo ‘coisifica’ as pessoas e as relações como  um vírus que contamina a  todos e aliena. O longa-metragem é um grito pelo descortinar da hipocrisia, uma evocação a sinceridade e ao bom senso…antes que a frente fria chegue. Mostrando o painel de uma sociedade usurpadora através dos jovens e sua postura.  Os personagens de Amsterdã e Ninguém são os contraponto dessa dissertação alucinada que derruba todas as colunas dos enganos que impingimos a nós mesmos.

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Tecnicamente o filme é todo realizado no morro do Vidigal, no Rio de Janeiro, tem como destaque a atuação de Bruna Linsmeyer que está avassaladora, um pequeno diamante para se prestar atenção. Com uma fotografia espetacular de Kika Cunha de “Jogo de Xadrez” (2014) e “Amor nos Tempos do Cólera” (2007) e uma paisagem estonteante, ainda conta com uma trilha sonora que mistura funk e sertanejo com uma dissonância proposital, tudo em “A Frente fria que a Chuva Traz” é exponencial. Para alguns não passará de um filme sobre um grupo de desocupados, mas para quem tem  olhos de ver é uma baita crítica social. Para variar, a cara de Neville D’almeida, o cineasta ousado que além de detentor de uma das maiores bilheterias, da época, com ” A Dama do Lotação” (1978) tem ainda no currículo os poucos conhecidos e não menos importantes “Jardim de Guerra” (1968) e “Mangue Bangue” (1971). Ou seja, um guerreiro da resistência que tem a maestria de misturar o humano e seus feitos envoltos em muita politização, seja ela escancarada ou não. E dessa vez, a jornada é existencialista.

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#Festival do Rio – Fora de competição: Longa/Ficção.

 Assista ao ousado trailer de “A Frente Fria que a Chuva Traz” (Aqui!)

Editado em 27/04/2016.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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