A Lição (Urok/ The Lesson). (Drama); Elenco: Magita Gosheva, Ivan Barnev, Ivan Savov, Stefan Denoluybov, Ivanka Bratoeva; Direção: Kristina Grozeva, Petar Valchanov; Bulgária/Grécia, 2014. 105 Min.
O filme “A Lição” é uma produção da Bulgária em parceria com a Grécia e versa sobre a flexibilidade dos valores no contexto dos movimentos da vida. Além de servir como um excelente start para pensarmos a política europeia para os países menores economicamente, como é o caso da Bulgária e, recentemente, da crise grega. Não por acaso os produtores da película.
Uma professora de ensino médio leva uma vida pacata e simples ao lado do marido desempregado – aspecto esse a realidade econômica e social atual na Bulgária e na Grécia- e com uma filha pequena. Um dia descobre que seu marido não pagou uma espécie de hipoteca, então, sua casa passa a ser alvo de confisco. Paralelo a isso, em sala de aulas, um aluno afana o valor do lanche da mochila de outro colega, e a professora tem que descobrir quem foi e puni-lo. Enquanto isso a professora se enrola com agiotas e é obrigada a ir às últimas consequências para manter sua casa. Acaba se envolvendo em um episódio, no qual jamais suspeitariam dela, por conta dos estereótipos. Ao mesmo tempo descobre quem foi o aluno gatuno e o desfecho desta história corriqueira, simples, que faz arte do cotidiano da maioria de nós é primoroso.
A reflexão sobre o estado de recessão europeu de alguns países e a superdimensionalização dessa historia se dá por conta de um detalhe, ninguém tem nome. Podem ser eu, você, qualquer um e todo mundo…inclusive os países que representam no contexto em que vivem hoje economicamente. A necessidade de burlar as normas instituídas se dá quando as normas são contra o próprio indivíduo. O berço da epistemologia ocidental (a Grécia) representado na professora sem nome, que se encontra no fundo do poço e que é aviltada por uma ordem mundial a obriga a mudar seus paradigmas morais – de conduta. Uma pessoa sem identidade que tem a mãe como ídolo, a madrasta como estorvo, que vem de um pai abastado e é casada com um fracassado, num desenho de tragédia grega contemporaneizada. Uma mãe sem nome que é capaz de tudo para manter um lar cuja entrada e saída são um entrave. Todas essas metáforas interligadas são para serem conectadas ao bel prazer das redes de conhecimento e de repertório do espectador.
O longa foi dirigido e roteirizado por Kristina Grozeva e Petar Valchanov, ambos vindos de curta-metragens e séries de TV, respectivamente. Tendo em “A Lição” seu primeiro longa-metragem. Estrelado por Margita Gosheva de “3 Dias em Sarajevo” (2014), já ganhou os prêmios de melhor atriz nos festivais da Transilvânia (2014), o Angers European First Film 2015; prêmio de melhor primeiro filme no Göteborg Film Festival; melhor direção no festival da Transilvânia e no San Sebastian; melhor roteiro e o Alexandre de bronze do festival de Tessalônica. O primor da película depois do roteiro é a fotografia de Krum Rodrigues, premiado por um filme local no Camerimage. O interessante do filme é o pouco uso da música e os silêncios eternos cortados apenas por barulhos do cotidiano, passos pela rua, respiração ofegante de cansaço e resistência, etc…
“A Lição” traz para a tela os nossos mecanismos de quebra do que aprendemos como correto e nos coloca diante da relatividade dos valores. Ainda está em cartaz no circuito cinema/arte do Rio de Janeiro, mas também está disponível em plataformas online.
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