A Luz Entre Oceanos

A Luz Entre Oceanos

Por | 2016-11-08T13:47:34-03:00 8 de novembro de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

A Luz Entre Oceanos (The Light Between Oceans) (Drama/Romance); Elenco: Michael Fassbender, Alicia Vikander, Rachel Weisz; Direção: Derek Cianfrance; ReinoUnido/Nova Zelândia/USA; 2016. 133 Min.

“A Luz Entre Oceanos” é um filme de época, não só pelas características óbvias: o tempo, o figurino, o vocabulário; mas principalmente, pelas ideias, pelo painel da mentalidade de uma época. O filme é baseado numa ficção australiana, livro de estreia da escritora M. L. Stedman e nos põe como viajantes num tempo em que o amor era tudo o que podia acontecer na vida de uma pessoa, e ser mãe e pai era a honraria máxima premiada pelos céus.

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Tom Sherbourne (Michael Fassbender) é um veterano da Primeira Guerra Mundial, que depois de ter visto e participado de tantas atrocidades quis se isolar e aceitou um emprego temporário como faroleiro numa ilha deserta. Chegando à cidadezinha porto conhece Isabel Graysmark (Alicia Vikander) e com o passar do tempo se aproximam e se casam. (era assim em 1918). O contrato de Tom é efetivado e o casal se isola no paraíso. A  prole era uma consequência natural, ou melhor, obrigação. Mas Isabel apresenta problemas em duas gestações  não conseguindo realizar seu sonho/dever e se perturba psicologicamente com isso. Até que um dia surge, à deriva,  um pequeno barco com um homem morto e uma bebê, ainda viva. No meio do nada e sem testemunhas, Isabel convence Tom a ficarem com a pequena Lucy como se fosse sua filha natural. A muito custo e com crises de consciência Tom aceita.  Até que conhece a mãe biológica da menina, Hannah Rosenfeldt (Rachel Weisz). O que  tinha tudo para ser um dramalhão mexicano se converte num desfile de retóricas procedentes, com direito a conflitos internos – pessoais e na relação – e autossabotagem, tudo no campo da ética. Ou seja, “A Luz Entre Oceanos”é um painel da mentalidade da primeira metade do século XX, com resquícios dos valores os século XIX. Os pontos de vista são postos e o engessado conceito de justiça passeia pela obra como indício de uma maneira de ver o mundo, que é fruto da forma com a qual ele é organizado.

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A abordagem de Derek Cianfrance de “Blue Valentine” (2010) que, além de dirigir também fez a adaptação e o roteiro, é muito competente por ser fiel aos valores da época. E por conseguinte, nos proporcionar essa possibilidade de analogia. A escolha dos atores também foi bastante feliz, o casal, na vida real, do momento Michael e Alícia estão com uma química e tanto e Rachel Weisz completa essa trinca que conta uma história crível. O período de recorte de tempo é de 1918 a 1950, trinta anos da primeira metade do século XX.

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Quanto as Tecnicalidades os destaques vão para o cinegrafista Adam Arkapow de “Macbeth” (2015)  pela fotografia romântica. Para a direção de arte de Sophie Nast de “Deuses do Egito” (2016) e para ele, o onipresente, Alexandre Desplat na trilha sonora, dessa vez com um piano que parece contar a história sozinho. Dono de uma filmografia extensa – 169 créditos – Desplat tem a mania de estar presente em vários filmes ao mesmo tempo em uma temporada anual. Só em 2016 foram 9 longa-metragens e 1 série de TV, só perde para Ennio Morricone  que em 1994 fez a trilha sonora  de uma dúzia de filmes, estatisticamente 1 por mês. Eita galera poderosa!!

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“The Light Between Oceans” é isso, um desfile da mentalidade do século XIX, com muito boas interpretações, direção e roteiro. Foi indicado ao Leão de Ouro de Veneza 2016 mas perdeu para “A Mulher que se Foi” de  Lav Diaz. Ou seja, perdeu para o melhor. Apesar da belíssima pegada de retóricas e direção de arte, não tinha mesmo como ganhar de Lav Diaz. Portanto, continua no panteão dos grandes de 2016, se por sorte ou por competência quem decide é o espectador.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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