‘A Morte de Stalin’ mostra que o humor salva

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‘A Morte de Stalin’ mostra que o humor salva

Por | 2018-06-24T11:37:18-03:00 7 de junho de 2018|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

A Morte de Stalin (The Death of Stalin) (Comédia/História); Elenco: Olga Kurylenko, Simon Russell Beale, Adrian McLoughin, Steve Buscemi, Michael Palin; Direção: Armando Iannucci; Reino Unido/França/Bélgica/Canadá, 2017. 107 Min.

Baseado na Comic BookThe Death of Stalin” de Fabien Nury e Thierry Robin, o longa-metragem dirigido por Armando Iannucci debocha da confiança e lealdade dos ‘camaradas’, tira um sarro com a espontaneidade das emoções num regime totalitarista e desenha um painel procedente da paranóia que assolava a antiga URSS e o mundo à época da Guerra Fria. Com um elenco de tirar o fôlego, contando com Steve Buscemi e Michael Palin “A Morte de Stalin” traz um mosaico  das relações de poder na Antiga União Soviética e funciona para trazer à memória o clima de tensão daqueles tempos.

Na Moscou de 1953, em pleno estado totalitarista da cortina de ferro, morre o ditador Joseph Stalin. A partir desse episódio se instala o pânico entre os componentes do partidão e inicia-se a trama pela sucessão do líder no poder do antigo maior país do mundo em extensão territorial. Com um humor ácido e irreverente debocha da forma com a qual as listas de subversivos são fabricadas, descortina o fabrico de denúncias falsas e desenha a paranóia vivida pelos soviéticos à época. Escrito por quatro roteiristas, incluindo o diretor do longa, a obra traz à lembrança os misteriosos desaparecimentos dos ex-presidentes daquele país à época, depois de cumprirem seus mandatos ou ao longo deles. Estabelece conexão com o fomento do medo no imaginário social – o famoso telefone vermelho à mesa de Stalin – de uma forma lúdica, brincalhona e, por vezes, irreverente.

Armando Iannucci é um diretor escocês conhecido por “Conversa Truncada” (2009) pelo qual foi indicado ao Oscar e no momento roteiriza e dirige “The Personal History of David Copperfield” em fase de pré-produção. O forte do longa é o roteiro muito bem construído e que esteve sob a batuta de David Schneider de “Missão Impossível” (2009) e “Todos os Homens da Rainha” (2001). Outros destaques são o elenco, as atuações e a trilha sonora. No elenco temos nomes conhecidos e respeitados no mundo inteiro como Simon Russel Beale (Lavrety Beria – Chefe da NKYD na Geórgia e executor do grande espurgo de Stalin na década de 30 e comandante do massacre de Katyn), conhecido por “Sete dias com Marilyn” (2011); Steve Buscemi (Nikita Kruschchev – secretário geral do Partido e sucessor de Stalin), conhecido por “Broadwalk Empire” (2010) e Michael Palin (Vyacheslav Molotov – ministro das relações de exteriores de Stalin responsável pela fome e genocídio na Ucrânia devido ao recolhimento das colheitas), conhecido por “Um Peixe Chamado Wanda” (1988) e integrante do aclamado grupo de comédia inglesa Monty Python. Todos têm uma atuações brilhantes, com times excelentes e uma sincronia sensacional, principalmente, em se tratando de piada política. Quanto a trilha sonora assinada por Christopher Willis da série de TV “Mickey Mouse” (2013-2017) é propositalmente dissonante quando põe todas as atrocidades, desmandos e atrapalhadas a acontecer ao som de Mozart, Tchaikovsky e Chopin de forma sensacional.

O filme de Armando Iannucci foi bem recebido no mundo inteiro, menos na Rússia de Wladimir Putin, é claro. Foi indicado a 2 BAFTAS – melhor filme e roteiro adaptado – ganhou o FIPRESCI de melhor diretor no Monte Carlo Comedy Film Festival e vários prêmios no Brithish Independent Film Awards. Inspirado em fatos reais ” Morte de Stalin” nomeia todos os políticos e seus cargos, desconstrói o imaginário de lealdade por ideologia e faz um trançado metafórico da paranóia da época. E mais do que isso, faz rir e faz pensar. É indicado para todos os públicos, mas quem vai curtir  toda a sua essência são os historiadores. O longa vale mais do que pesa e é altamente recomendável.

 

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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