A Mula (The Mule)(Crime/Drama/Thriller); Elenco:Bradley Cooper, Clint Eastwood, Michael Peña, Andy Garcia, Lawrence Fishbourne;Direção:Clint Eastwood; USA, 2018. 116 Min.
Quanto mais velho um vinho, melhor. Essa premissa se aplica como uma luva a cineastas octogenários do momento: Jean-Luc Godard, Carlos Saura, Ignès Varda e, entre eles, está incluído Clint Eastwood. Do alto de seus 88 anos o diretor, ator, roteirista e produtor traz para a telona “A Mula”, baseado na história real de Leo Sharp um veterano de guerra que se tornou um horticultor premiado e que aos noventa anos decidiu trabalhar para o cartel mexicano carregando drogas através do estado de Illinois. Clint dirigiu e estrelou o longa que conta essa história com uma sensibilidade que lhe é bastante particular.
O diretor interpreta Earl Stone, um homem fechado, distante da família que aos noventa anos perde a casa e o seu cultivo e que, por conta disso, resolve trabalhar para o cartel mexicano de Sinaloa, sem ter muita noção do que estava fazendo, até se dar conta. A forma com a qual o cineasta conta esta história é que é a cereja do bolo, e dá a narrativa o seu viés principal, o da redenção. O ponto de vista é o de Earl, suas necessidades, sua ingenuidade em relação ao que estava se envolvendo e sua sagacidade em resolver conflitos; o paralelo entre sua vida pessoal com a família e a relação com os negócios do cartel. O viés, sendo o da redenção, não fica em nada a dever ao estilo do cineasta e nos remete a “Gran Torino” (2008) que tem um contexto parecido e que é do mesmo roteirista.
O longa foi roteirizado por Sam Dolnick que se inspirou num artigo do New York Times: “The Sinaloa Cartel’s 90 years old drug mule” e Nick Schenck de “Narcos” (série de TV) e “O Juiz” (2014). Clint Eastwood, que tem em sua carreira como ator 72 atuações, incluindo o oscarizado “Menina de Ouro (2004) e o aclamado “Os Imperdoáveis” (1992); e mais 40 direções cinematográficas, entre elas: “Sniper Americano” (2014) e “Sully: O Herói do Rio Hudson” (2016) está em ótima forma, performance e uso de suas potencialidades aos 88 anos.
“A Mula” é um road movie inusitado, existencialista, que se propõe a quebra de estereótipos quando apresenta aquilo que se espera de tipos e aparências e os desconstrói ou atualiza: o do traficante, o de identidade de gênero, o da definição de negro, o de pai de família; e ainda, apresenta as diferenças entre as gerações no que diz respeito a percepção e definição desses nichos, dos usos da tecnologia, etc. “A Mula” é um filme que vale a pena conferir pela sua abordagem sensível, pela sua gama sutil de aspectos postas numa história simples e inusitada que traz as pincelados características do olhar de Clint. Altamente recomendável!
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