A Nona Vida De Louis Drax (The 9th Life of Louis Drax) (Mistério/Thriller); Elenco: Aiden Longworth, Sarah Gadon, Aaron Paul, Jamie Dorman; Direção: Alexandre Aja; Reino Unido/Canadá/USA, 2016. 108 Min.
Adaptado do livro homônimo de Liz Jensen e com roteiro de Max Minghela “A Nona Vida de Louis Drax” desconstrói arquétipos, faz conexões inusitadas e muito bem vindas entre ciência e metafísica, apresenta diferentes pontos de vista de um mesmo fato e parte do nível de percepção de mundo de uma criança para contar uma história que versa sobre construção de personalidade a partir da criação, e desvios de personalidades a partir de traumas. O viés é a psiquê, a apegada é de análise, o fio condutor é o de uma investigação e a agulha que costura toda essa história são os machucados de uma criança de 9 anos.
Louis Drax (Aiden Longworth) é um menino que tem nove vidas e que partir desse raciocínio conta a história de seus machucados. A sua versão de como aconteceram e o que significaram. Até que, um dia, cai de um penhasco e fica entre a vida e morte, é seu nono machucado, sua nona vida. A abordagem inicial é da criança com a mistura característica de fantasia e realidade. Depois vem a abordagem investigativa, há que se descobrir como e porque uma criança cai de um penhasco do nada; a terceira abordagem é a da ciência, a medicina e a psicologia associada à parapsicologia. Essa costura louca é feita misturando camadas, desconstruindo arquétipos: toda mãe é boa, todo pai é distante, criança não mente…tudo o que é bonito é encantador. A forma visceral e sincera com a qual a criança enxerga o mundo e que pessoa se vai criando através do tratamento cotidiano e da má gestão de traumas, na abordagem é genial. O argumento da desconstrução é muito subjetivo e de difícil abordagem, e isso é sentido pelas arestas deixadas pelo roteiro no meio do caminho e pela necessidade das takes de fantasias inseridos na realidade. Numa metáfora belíssima da visão de mundo de uma criança.Mas, difícil de entender dessa forma.
Alexandre Aja conhecido por “Amaldiçoados” (2013) está acostumado a fazer abordagens na seara do terror e mistério, mas misturar as fantasias infantis com uma realidade dura é diferente. E ele o fez muito bem (destaque para a cena da caverna). Todo mundo da equipe tem os dois pés no nicho do terror e do mistério e conseguiram fazer uma pintura do cotidiano de uma criança desprotegida muito fatual.O que nos faz pensar o quanto a realidade pode ser aterrorizante, naturalmente.
Os destaques vão para o canadense Aiden Longworth que com 12 aninhos está em seu 15º trabalho entre o filme ” Hector e a procura da Felicidade” (2014), curtas e séries de TV e para Sarah Gadon de “Mapa para as Estrelas” (2014) que estão soberbos. A forma de condução da história também merece menção e se compara a “Garota Exemplar” (2014) devido as desconstruções de estereótipos, aos jogos de verdade e mentiras e às possibilidades de versões.
Com a premissa nada é o que parece ” A Nona Vida de Louis Drax” tem um bom argumento e uma boa abordagem. O caminho tomado é que é difícil – o ponto de vista de uma criança. Inclusive, é possível compara-lo ao “O Quarto de Jack” (2015) embora o roteiro deste seja muito mais enxuto e certeiro. Mas independente disso a dupla Aja e Minghela deram conta do recado. O filme é uma boa pedida para psicanalistas de plantão, mas é acessível a qualquer um que curta uma boa história.
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