A Ovelha Negra (Hrútar). (Drama); Elenco: Sigurôur Sigurjónsson, Theodor Juliusson; Direção: Grímur Hákonarson; Islândia/Dinamarca/Noruega/Polônia, 2015. 93 Min.
“A Ovelha Negra” é uma dessas preciosidades que nos faz perguntar como alguém teve uma ideia tão simples e ao mesmo tempo tão grandiosa com tão pouco: dois irmãos, uma fazenda dividida ao meio e dois rebanhos de ovelhas. Mas foi isso que o Islandês Grímur Hákonarson fez roteirizando e dirigindo o longa.
O filme conta a história de um momento na vida de dois irmãos, Gummi (Sigurôur Sigurjónsson) e Kiddi (Theodór Juliusson) que vivem na mesma fazenda separada por uma estrada e que não se falam há 40 anos. Depois de um concurso de ovelhas – a criação de ovinos é atividade econômica e cultural do país – o animal de Kiddi vence, e Gummi vai averiguar o que tem aquela ovelha de melhor em relação às outras, e muito principalmente, em relação à sua. E descobre indícios de Scrapie, uma doença neurodegenerativa que é altamente contagiosa entre os animais, embora não o seja para os humanos, mas que implicaria no abate de todos os rebanhos do vale. Esse é start para uma saga de conflitos entre os dois irmãos.
A maestria do filme está em colocar sob o holofote a personalidade dos irmãos, sem se deter nos motivos pelos quais não se falam. Isto não é importante, o que realmente importa é quem são, em que circunstâncias se encontram e o que vão fazer diante dela dentro desse contexto e que desfecho vai ter essa história, tudo isso entrecortado com muita solidão e silêncios. A radiografia desse desafeto é feita de forma limpa sem imbricar com histórias de outros personagens e sem conexões com metáforas. Não existem camadas e subcamadas a serem analisadas, mas sim, a assertividade da narrativa em relação aos dois irmãos. O grande exemplo disso é o título da obra, que não é nem conexão, nem metáfora para nada, apenas o start da história.
O filme é o terceiro longa-metragem de Grímur Hákonarson, que possui trabalhos reconhecidos, mas todos regionais. Premiado mundo afora pelas atuações de Sigurôur e Theodór, pela fotografia e pela direção “A Ovelha Negra” foi aposta da Islândia para o Oscar 2016, não chegou à final mas está rodando mundo afora. Além do sapo de prata do Camerimage 2015 (prêmio maior de fotografia) ganhou Un certain Regard do Festival de Cannes 2015 e o Golden Tower de melhor file no Palic Film Festival e o FIPRESCI de melhor ator para os dois atores principais no festival de Palm Springs. Dentre os destaques: a trilha sonora de Atli Örvarsson de “João e Maria: Caçadores de Bruxas” (2013) e a fotografia do competente Sturla Brandth Grovlen de “Victoria” (2015) – o plano-sequência de mais de duas horas -.
Para resumir “A Ovelha Negra” é um filme Islandês que traz uma versão de caim e Abel com final feliz e que de lambuja ainda nos apresenta um pouco da cultura da Islândia. Vaticinando: hilário e cativante!
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