A Senhora da Van

A Senhora da Van

Por | 2016-04-28T01:17:25-03:00 28 de abril de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

A Senhora da Van (The Lady In The Van) (Biografia/comédia/Drama); Elenco: Maggie Smith, Alex Jeannings, Jim Broadbent; Direção: Nicholas Hytner; Reino Unido, 2015. 104 Min.

“A Senhora da Van” é uma adaptação para o cinema do livro do dramaturgo e roteirista Alan Bennett sobre sua amizade com Margareth Fairchild. Ou, simplesmente, Miss Mary Shepherd, como era conhecida. Tratava-se de uma sem-teto inglesa que fora aluna do pianista francês renomado Alfred Cortot; que havia tocado Chopin num recital, tentado ser freira e interditada pelo próprio irmão em um determinado momento de sua vida. “A Senhora da Van’ conta uma história, dentre tantas, de uma mulher que teve que abrir mão de seus sonhos por pressão externa, que fugiu de todas as imposições que lhe impingiram, sucumbiu a um trauma não superado, mas não abriu mão de si mesma em nenhum momento. Temperado com humor, para ficar palatável, o longa-metragem nos traz umas lições belíssimas sobre felicidade, por mais dissonante que isso possa parecer.

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Maggie Smith do alto de seus 81 anos, em mais um de seus papeis primorosos, pelo qual foi indicado ao Globo de Ouro, é Miss Mary Shepherd ou Margareth Fairchild. Uma senhora octogenária que viveu numa van, nas ruas de Londres na década de 70. Os moradores a conheciam e era querida de alguma forma. Afinal,que mal poderia fazer uma mulher idosa, sem família e sozinha nas ruas? despertava até uma certa compaixão e senso de proteção (segundo a linha de abordagem de Alan Bennett). Os moradores faziam-lhe caridade e apostas sobre qual das ruas seria ocupada por ela em seguida. Um belo dia Mary Shepherd escolhe a frente da casa de Alan Bennet (Alex Jennings) e a amizade inusitada e dissonante começa aí. Alan também morava sozinho. Escritor e dramaturgo, além de se divertir com  as tiradas de Miss Shepherd e sua logística de sobrevivência, passava por alguns inconvenientes por ter uma moradora de rua em sua porta, com toda a carga que a palavra traz.

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O filme conta a história do processo de escrita desse livro e da investigação silenciosa e tímida que Alan fez para descobrir quem era Miss Shepherd ou quem havia sido Margareth Fairchild. E o desenrolar da história é surpreendente, emocionante e admirável. Em relação ao suporte cinema o longa faz referência a “A Canção de Bernadette” (1943) de Henry King; tem a atuação muito digna de Maggie Smith que dá um show de talento; tem a trilha sonora orquestrada por George Fenton, indicado a cinco Oscars, dentre eles, por “Ligações perigosas” (1988) que insere Chopin (Piano Concert I) e Herman Langschwert e Wolfgang Killian (Liberty of Action) numa metáfora belíssima da vida de Miss Shepherd. E ainda a direção sensível e bem humorada, que dá leveza à história, de Nicholas Hytner  de “As Loucuras do Rei George” (1994).

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Sobre os aspectos filosóficos é riquíssimo. O roteiro foi desenvolvido pelo próprio Alan Bennett e ressalta a força e a coragem daquela mulher em dizer não a todos os grilhões que tentaram prendê-la. Mesmo pagando um preço alto. E ainda faz um contraponto com sua própria mãe, uma senhora protegida, bem-quista  pela sociedade, que ficou sob a égide de todas as imposições sociais, como se espera de uma mulher, principalmente naquela época, segunda metade do século XX e na sisuda Inglaterra. E faz um painel do que seria felicidade, lucidez e saúde, de forma sutil e não acintosa. É, também, uma divagação sobre o que seria viver de verdade, quando diz: “perto da vida que viveu Mary Shepherd a minha parece tão insípida”….

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“A Senhora da Van” é um produto cinematográfico como outro qualquer, cujo objetivo é comercial, é claro. Mas a maneira de contar essa história é seu chamariz número um. “A Senhora da van” fala de nossas fraquezas e nossas fortalezas. Mas, muito principalmente, que somos únicos e que o nosso maior bem somos nós mesmos. E que a melhor atitude da vida é não deixarmo-nos curvar diante daquilo que nos abriga a deixar de sermos nós. O longa metragem de Nicholas Hytner versa sobre que é uma pessoa feliz contra todos os prognósticos e estereótipos. Vale o ingresso!

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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