‘Ad Astra’ – mergulhos em extremos

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‘Ad Astra’ – mergulhos em extremos

Por | 2019-10-04T21:44:57-03:00 4 de outubro de 2019|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Ad Astra – Rumo às Estrelas (Ad Astra) (Aventura/Drama/Mistério); Elenco: Brad Pitt, Tommy Lee Jones, Donald Sutherland, Liv Tyler; Direção: James Gray; USA, 2019. 123 Min.

Os discursos de Sêneca originou o ditado latino ‘per aspera ad astra’ ( por caminhos ásperos se vai ás estrelas), o título do mais recente filme do diretor James Gray se apropriou da expressão para versar sobre a aventura de buscas: busca de vida inteligente extraterrestre, busca por um pai que se pensava morto, busca pela última fronteira de nossas capacidades e etc. Tudo isso para falar do que fugimos…de nós mesmos. Esses extremos foram abordados de forma tão poética, através da narrativa do personagem principal Roy Mcbride (Brad Pitt), que faz do filme uma viagem interior e uma autoanálise belíssima acompanhando todo um processo de evolução emocional de um indivíduo.

Roy Mcbride é um astronauta cuja competência o faz participar de missões importantes. Filho de um herói nacional que fez história na SPACECOM, Roy é convocado para uma missão que implica em descobrir o real intuito das pesquisas de seu pai H. Clifford Mcbride (Tommy Lee Jones). Durante o processo de viagem à Lua, a Marte e a Netuno (cada vez mais longe) sua narrativa faz o oposto relata suas sensações, sua vida, sua percepção de mundo. O viés de abordagem dos extremos é inteligente e muito bem administrado com paralelos metafóricos procedentes. Há muito que vemos filmes sobre viagens espaciais no cinema, tirando as franquias, os filmes mais recentes “Prometheus” (2012); “Gravidade” (2013); “Interestellar” (2014); “Perdido em Marte (2015) e “Primeiro Homem” (2018) todos sonhando com o homem no espaço como num western sem fronteiras onde a galáxia nos pertence por direito de conquista. Em “Interestellar” a necessidade de achar um lugar para substituir a Terra como planeta para se viver, em “Gravidade” o oposto a necessidade de voltar. Em “Ad Astra” o espaço já está conquistado, já chegamos até Netuno, quem está perdido dentro de si mesmo é o homem, logo a procura é interior.

James Gray, conhecido por “Fuga para Odessa” (1994) – pelo qual foi premiado em Veneza – e “Era Uma Vez em New York” (2013) em que conta a história de sua própria mãe e versa sobre imigração nos EUA dos anos 30. Gray é especialista em falar sobre assuntos subjetivos – sordidez humana, esperanças, impotências, desenvolvimento pessoal e afins – em “Ad Astra” tudo isso é posto quando o roteiro feito por ele e Ethan Gross de “Fringe” (2010), mostra o quanto evoluimos tecnologicamente com construções de bases extraterrestres na Lua e em Marte e junto com a população levamos também nossos maus costumes, nossos conflitos internacionais relacionados a recursos e acúmulo de riquezas, com direito a espionagem e a pirataria. Nem fora da terra conseguimos mudar, melhorar. Só alastramos o instinto destruidor que somos para outros planetas e universo afora. Ao mesmo tempo em que Roy vai se estudando, se avaliando, se analisando e tentando crescer como pessoa e na compreensão de sua maneira de ver o mundo, as relações, as pessoas e a vida ele vai mais longe e em busca daquele que sempre foi o seu referencial oposto, ou seja, aquilo que não queria ser.

Quanto às tecnicalidades, a fotografia foi assinada por Hoyte Van Hoytema de “Interestellar” e a trilha sonora pontual e límpida é assinada por Max Richter de “Duas Rainhas” (2018). Esses dois aspectos: imagem e som, é a vida do cinema e, se conectaram muito bem com as reflexões de Roy McBride exponencializando sua dor, sofrimento e silêncio. Tendo como produtor o brasileiro Rodrigo Teixeira, o longa tem um ‘q’ de solidão humana do tamanho do espaço sideral, ou seja infinita. Mas, um alento da necessidade de valorização do outro muito sutil e pertinente. Ou seja, diz a que veio.

“Ad Astra” é um ode ao aprendizado, ao autoconhecimento, a esse mergulho introspectivo em nós mesmos. Vale o quanto pesa!

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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