Aliança do Crime (Black Mass). (Biografia/Crime/Drama); Elenco: Johnny Depp, Joel Edgerton, Benedict Cumberbatch, Dakota Johnson, Kevin Bacon; Direção: Scott Cooper; USA/Reino Unido, 2015. 122 Min.
O mais recente trabalho de Johnny Depp é uma cinebiografia. Um recorte de 10 anos na vida de James ‘whitey’ Bulger, líder da organização criminosa irlandesa Winter Hill Gang que controlava o tráfico de drogas, a prostituição e a extorsão em Boston nas décadas de 70 e 80. Trata-se do criminoso mais procurado do FBI na época. O longa faz um zigue-zague analógico entre a família/pessoal de Bulger e a família/máfia; remonta a fase de expansão de poder de Bulger através de sua ligação com o FBI e canta pra subir com o encosto que assolava Johnny Depp desde Jack Sparrow em ” Piratas do caribe: A Maldição do pérola Negra” (2003).
Baseado no livro homônimo de Dick Dehr e Gerard O’Neil, o longa dirigido por Scott Cooper e roteirizado por Mark Mallouk e Jez Butterworth se detém nos anos de 1975 a 1985, em que James ‘Whitey’ Bulger (Johnny Depp), já saído de Alcatraz, reinava timidamente nas ruas de Boston. Irmão do, então, senador William ‘Billy’ Bulger, Whitey era amado pela vizinhança, ‘bom filho’, ‘bom pai’ e um dos mais infames e violentos criminosos da história de Boston. Representava o braço irlandês no submundo do crime. Neste período, o agente do FBI John Connolly (Joel Edgerton), que fôra seu amigo de infância, o procura para pedir ajuda nas investigações sobre o mafioso italiano Gennaro Angiulo. Fingindo-se informante, James Bulger faz uma aliança com o FBI, que o protegeria enquanto ele acabava com o braço italiano da máfia, e assumia o seu lugar, é claro. “Aliança do Crime” conta a história de como James Bulger usou o FBI para estender o seu poder sobre o território da máfia italiana em Boston. Versa sobre a sua capacidade fria de calcular táticas e montar estratégias; e desenha a linha do raciocínio intrincado de Bulger, por exemplo: na cena do jantar na casa de John Connolly – a conversa com John Morris (David Harbour) – e na cena do quarto com Marianne Connolly (Julianne Nicholson); além de sua forma de ação cruel, violenta e psicótica de praticar suas mortes.
Sobre o longa, Scott Cooper é um diretor de pouca experiência, é seu terceiro longa-metragem. O roteirista Mark Mallouk tem experiencia como produtor (Everest/2015; Caçada Mortal/2014), já Jez Butterworth, é quem tem mais chão, com 12 roteiros no currículo, dentre eles: “007 Contra Spectre” e “James Brown” – que não são exatamente primores – a trinca conferiu uma pegada de comparações/analogias com o conceito de família (pessoal e mafiosa), numa abordagem inteligente, embora cansativa. Num zigue-zague que metaforizou o paradoxo da personalidade de Bulger: aquele que ama a mãe, a mulher e o filho, é capaz de ser terno, carinhoso e cuidadoso, mas que mata com requintes de crueldade com as próprias mãos. Em compensação o tripé edição, trilha sonora e interpretação é composto de feras. Na edição, o indicado ao Oscar por “O Informante” (1999) David Rosembloon, e que já ganhou por “Aliança do Crime” melhor edição do Hollywood Film Awards 2015. Na trilha sonora, Junkie XL (Tom Holkenborg) de “Mad Max: Estrada da Fúria” (2015) – uma ópera contemporânea sob a batuta de George Miller – que vai de Ella Fitzgerald a Rolling Stones, fazendo uma graça com Cole Porter. E a interpretação de Johnny Depp, que merece uma dissertação atenciosa.
A atuação de Depp é a azeitona da empada. Ele está extraordinariamente assertivo e contido, e coube magistralmente no personagem. Debaixo de uma maquiagem que merece ovações, Johnny Depp ficou irreconhecível, ali só se vê James Bulger. Nem de longe faz lembrar as personas criadas pelo ator para viver o capitão Sparrow da franquia “Piratas do Caribe”, ou Mr. Wonka da “Fantástica fábrica de Chocolate” (2005), ou ainda, Mordecai de “Mordecai: A Arte da Trapaça” (2015), dentre outros. Indicado a 3 Oscars, Johnny Depp tem em seu currículo trabalhos diversos como Lerner de “Platoon” (1986), Dean Corso de ” O Último Portal ” (1999) que são desconectados dos estereótipos criados por ele para interpretar personagens hilários. Com “Black Mass” (no original) o cosmos conflagrou a favor, juntando seu talento (porque o tem), com um personagem forte e poderoso na história da criminalidade dos EUA, e colocou ambos no lugar certo e na hora certa. A cola funcionou, Depp está magnífico.
Para completar, “Aliança do Crime” desenha o auge e o esfacelamento das duas ‘famílias’ de Bulger. As remetências à que somos expostos são o cotidiano da “Família Soprano” (série de TV), quando passeia pelas ruas de Boston e “O Poderoso Chefão” quando faz a concomitância entre as festas,cerimônias e eventos com os assassinatos cometidos. Ou seja, “Aliança do Crime” pode ser o azarão da temporada 2015. Mergulhado no nicho da máfia- que tem espectadores garantidos – com uma história impactante, real e pouco conhecida, e ainda por cima, com a fama de ter dado visibilidade à diversificação do talento de Johnny Depp, o filme promete. Agora, é só aguardar, porque a temporada de indicações e premiações está só começando. Se vai levar alguma coisa ou não, é outra história, mas que já está fazendo barulho, Ah! isso tá.
Deixar Um Comentário