‘Anna Karenina: A História de Vronsky – a versão não contada

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‘Anna Karenina: A História de Vronsky – a versão não contada

Por | 2018-06-24T11:47:37-03:00 8 de junho de 2018|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Anna Karenina: A História de Vronsky (Anna Karenina: Istoria Vronskogo) (Drama) Elenco: Elizaveta Boyarskaya, Max Matveev, Kirill Grebenschikov; Direção: Karen Shakhnazarov; Russia, 2017. 98 Min.

Toda narrativa é uma versão seja ela oficial ou oficiosa. E como dizia Manoel de Barros ‘toda versão é uma traição’ desconstrói o que pensávamos saber. E é isso que vemos em “Anna Karenina: A História de Vronsky”. Dirigido pelo russo Karen Shakhnazarov o longa conta a história de Anna Karenina, 30 anos depois de sua morte ao seu filho Sergei Karenin durante a guerra da Manchúria em 1904, sob a ótica do amante. O roteiro é inspirado na aclamada obra de Léon Tostói e  do romance “Guerra da Manchúria” numa mistura genial com pitadas russas de literatura e cinema.

1904, Guerra da Manchúria. Sergey Karenin (Kirill Grebenshchikov) é um médico servindo às forças russas num acampamento, quando, após um bombardeio, chegam pacientes novos. Dentre eles um general, o conde Vronsky (Max Matveev) ex-amante de sua mãe, Anna Karenina (Elizaveta Boyarskaya). Ali eles se reconhecem e iniciam uma série de narrativas que remontam a história de Tolstói sob a visão de Vronsky ancorada em toda  narrativa já conhecida da literatura russa e aclamada no audiovisual, seja em filmes para a TV ou em  séries. A abordagem é genial quando desloca o olhar para fora de Anna Karenina, vendo-a  de um outro lugar, mas pertencendo aos acontecimentos e neles tendo uma conexão emocional. Essa abordagem, além de enriquecer a história desloca-a de romance dramático e a põe numa perspectiva feminista e política, desafiadora da mentalidade da sociedade russa do século XIX.

A direção e o roteiro ficou com Karen Shakhnazarov de “Tigre Branco” (2012) e “Cidade dos Ventos” (2008), que teve a colaboração, no roteiro, de Yury Poteenko de “Trovão Negro” (2009),  que também assinou a premiada trilha sonora. O forte do longa é a direção de arte com uma produção muito bem feita  com designer de produção e figurinos impecáveis e que remonta a segunda metade do século XIX e o início do século XX de forma magistral. “Anna Karenina: A História de Vronsky” ganhou a Águia de ouro de melhor direção de arte no Golden Eagle Awards e melhor trilha sonora no Russian Guild of Film Critics, coroando a primorosidade técnica da obra.

A história já é bastante conhecida do mundo inteiro. “Anna Karenina” de León Tolstói faz parte do acervo da literatura universal e já teve produções cinematográficas mundo afora. Mas dessa vez ela é falada em russo, produzida e dirigida por russos, com atores russos, falando da própria cultura com um viés novo de desconstrução com autoridade de dono da casa. Tudo feito com muito cuidado, respeito e o estilo russo de detalhes (que também é marca de León Tolstoi e da literatura russa). O filme vale mais do que o ingresso, vale ter na videoteca de casa. Um primor!

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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