Anomalisa. (Animação/Comédia/Drama); Elenco: Jennifer Jason Leigh, David Trewlis, Tom Noonan; Direção: Charlie Kaufman e Duke Johnson; USA. 2015. 90 Min.#FestivalDoRio2015
Charlie Kaufman é um roteirista competente e respeitado. Por “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” ganhou o Oscar de melhor roteiro em 2004. Agora, inova com “Anomalisa” falando sobre o ajuste do indivíduo a uma sociedade doente num momento em que a depressão é o mal do século, e como se não bastasse, o faz isso em Stop motion.
A animação para adultos de Kaufman conta a história de um momento na vida Michael Stone (David Thewlis – voice), um guru da autoajuda que vai para Cincinnati, por uma noite, para ministrar uma palestra. O detalhe é que Michael é quem precisa de ajuda. Vive uma vida que não gosta, não tem coragem para tomar decisões, não faz, em momento algum, o que deseja, não tem momentos de felicidade e tem surtos psicóticos. Aproveitando a viagem tenta reaver pessoas que fizeram parte de sua vida em um determinado momento, a tentativa não funciona e Michael se frustra. Até que encontra no Hotel, em que está hospedado, Lisa ( Jenniffer Jason Leigh – Voice), uma mulher que se vê como é, tem algumas inseguranças, mas as confessa, tem também uma baixa autoestima, mas a administra, não engana a si mesma e procura ser o mais verdadeira possível. E por estar na contramão do caminhar comportamental da humanidade é considerada como ‘anormal’ por isso se auto nomeia Anomalisa sem dores, pudores ou rancores. Lisa é normalmente anormal. Michael se encanta com isso e têm uma noite maravilhosa com Lisa.
A abordagem do filme de Charlie Kaufman é sobre as coragens que não temos, de ser quem somos, de fazer o queremos, de estar onde podemos, e mais, é sobre o sucumbir a esta máquina poderosa da conveniência. E “Anomalisa” faz um passeio pelas consequências disso na psiquê do indivíduo, através das perturbações de Michael. Ao mesmo tempo que aventa que, ir contra a maré não são as mil maravilhas, mas que isso influencia a forma com a qual vemos a vida, com a qual atuamos nela e recebemos o que nos acontece. “Anomalisa” é um semáforo sinalizando onde está a fonte de nossa infelicidade.
A Técnica de stop motion em uma história tão subjetiva, com uma abordagem adulta, e com takes sensuais e sexuais traz para o filme o potencial de chegar a um espectador mais aberto, de forma mais leve e mais eficiente, para um tema tão pesado. Já que diante de uma animação estamos adestrados a nos desarmarmos e nos encantarmos. Esse é o diferencial de “Anomalisa” o caminho que Charlie escolheu para fazer a sua história funcionar. A trilha sonora é outro componente que se casa muito bem com esse objetivo, e é assinada por Carter Burwell de “Fargo” (1996) e “Crepúsculo” (2008). Indicado a um Globo de Ouro por “Onde Vivem os Mortos” Burwell tem um currículo respeitável como compositor de trilhas. A direção de fotografia são os cabelos de sansão na modalidade escolhido, e Joe Passarelli de “Marrying God” (2006) fez bonito. Por tudo isso, “Anomalisa” foi sensação no Festival de Veneza e levou o grande prêmio do júri; o Future Digital Award e foi indicado ao Leão de Ouro. Além de Charlie Kaufman ter ganhado o prêmio de melhor diretor no Austin Fantastic Fest 2015.
“Anomalisa” mostra um indivíduo isolado, deslocado de seu próprio eixo e discute a importância das conveniências na vida de todos nós. Uma abordagem mais que fundamental num momento em que a depressão é bola da vez dentre as doenças que nos assolam. E a mensagem “Deixe eu ajudar você a se ajudar” (título do livro de Michael na ficção) é o que define “Anomalisa” como filme. Sensacional!
- Festival do Rio 2015 – Mostra Panorama do Cinema Mundial
- Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos.
- “Anomalisa” está concorrendo ao Oscar 2016 de melhor animação
- Editado em 28/01/2016.
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