Apesar da Noite (Malgré la Nuit) (Drama); Elenco: Kristian Marr, Ariane Labed, Roxane Mesquida; Direção: Phillippe Grandrieux; França/Canadá, 2015. 156 Min.
Phillippe Grandrieux está no panteão daqueles cineastas que têm um estilo próprio, marcante, quase que uma assinatura e que não estão nem aí para o que o mercado pensa deles ou como vão recebe-los. Se Gaspar Noé prima pelo absurdo, o dissonante e o violento, e Lars Von Trier por verdades desconcertantes, Phillippe Grandrieux brinca com o sórdido, com a sensorialidade, com o impacto não consentido na alma do espectador. Naquilo que ele (o espectador) tem de mais secreto. Em seu quarto filme de ficção Grandrieux segue a mesma vibe sensorial. Mas, dessa vez o viés são os instintos em sua potência máxima, sem fronteiras morais. O animalesco e o selvagem misturados ao viés da racionalidade, que nem por isso passa a ser mais nobre.
O filme tem uma história. Mas, ela é o que menos importa, nem é o principal. A coluna vertebral dessa narrativa é a digital de alma lasciva, o indizível. Os instintos puros são tidos como presença total, sem devaneios ou distrações – numa narrativa tardia que tenta orientar o espectador discretamente – mas, tudo o que é posto envolve volúpia e desejos dos mais sórdidos aos mais violentos. O filme é brutal e é para poucos. Não tem sexo explícito e não precisa. Gaspar Noé em “Love” é mais comercial e softpornô do que Grandrieux que pode ser resumido como artístico e provocador. Phillippe prima pela arte visual, pela interpretação crua de um ser humano/bicho e mostra que quando inserimos racionalidade na questão ela vem eivada de poder espúrio, de dominação, de inveja, de destruição e de danosidades. Para Grandrieux em seu “Apesar da Noite” não existe nobreza no humano e amor é história da carochinha.
O cineasta francês foi premiado por seu primeiro filme “Sombre” (1998) com menção especial no Festival de Locarno. De lá para cá vem criando uma obra cinematográfica que abrange diversas áreas do audiovisual, envolvendo experimentações etc… Com uma pegada brutal na seara da sexualidade e dos usos dos sentidos e sensores do corpo Grandrieux recebeu por “Apesar da Noite” o prêmio de melhor filme não lançado da Sociedade Internacional de Cinéfilos e foi indicado a melhor filme de vanguarda no Buenos Aires International Festival of Independent Cinema (2016).
Quanto à parte técnica o roteiro foi escrito a oito mãos dentre elas as de John-Henry Butterworth de “Get On Up – A História de James Brown” (2014); e por Rebeca Zlotowski de “Grand Central” (2013) para que ninguém reclame de violência contra a mulher. A seara do roteiro é o exercício da sexualidade, seja ela considerada desviante ou não. A música que exponencializa as reações no espectador é de Ferdinand Grandrieux e a fotografia é de Jessica Lee Gagné de “N.O.I.R” (2015).
“Apesar da Noite” é um filme visceral que faz um passeio pelo lado sombrio do exercício da sexualidade associada à sordidez da racionalidade. Um soco no estômago, brutal e provocativo!
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