Armas na Mesa

Armas na Mesa

Por | 2018-06-17T00:43:54-03:00 7 de fevereiro de 2017|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Armas na Mesa (Miss Sloane) (Drama/Thriller); Elenco: Jessica Chastain, Gugu Mbatha-Raw, John Litgow, Kake Lacy, Michael Sthulbarg, Mark Strong; Direção: John Madden; França/USA, 2016. 132 Min.

Miss Sloane” (no original) é um convite ao mundo de Frank Underwood – personagem de Kevin Spacey na série de TV “House of Cards” –  de saia, produzido pela França e co-produzido pelos EUA. “Armas na Mesa” (versão brasileira) é um passeio pela máxima de Maquiavel que diz que: “os fins justificam os meios”. Dirigido por John Madden, a história é ambientada no mundo do lobby do congresso americano. Estrelado por Jessica Chastain, o filme faz um cruzamento inteligente de aspectos: a arena de luta dos interesses políticos no âmbito da cultura armamentista americana; as possibilidades de ação com e sem ética no convencimento do outro; e sobre os preços que uma mulher paga para se camuflar num mundo competitivo e majoritariamente masculino. “Armas na Mesa” é uma história de guerra de retóricas, de jogos de manipulação de massa, de desconstrução  (ou não) de gênero, com ressalvas muito bem pontuadas. E todos essas nuances moram nos diálogos rápidos, específicos e que exigem bastante atenção do espectador.

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John Madden mudou radicalmente o estilo a que estamos acostumados, e que nos foi apresentado em “Shakespeare Apaixonado” (1998) e no “Exótico Hotel Marigold” I e II (2011/2015) com histórias melosas  e apresentação dos cotidianos, para viajar no mundo de Miss Sloane (Jessica Chastain). Uma  mulher poderosa, misteriosa e implacável que é contratada por uma empresa para fazer lobby contra a liberação de armamento para civis. Extremamente inteligente e fria, e partindo da definição da palavra lobby,o filme passeia por seus métodos de ação, sua vida pessoal e a maneira com a qual Elizabeth Sloane vê e atua no mundo.

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Porém, esse é apenas o pano de fundo para o roteirista Jonathan Perera mostrar os bastidores das negociações políticas, os engendramentos de interesses e, até que ponto se é capaz de defender uma ideia quando está em jogo a aprovação de uma lei. As redes de poder são muito bem desenhadas em “Armas na Mesa” com uma precisão de diálogos e uma especificidade de território que nos remete a “A grande Aposta” (2015) em que o nicho era o mercado financeiro e sua movimentação, relativo a especulação imobiliária, com vocabulário específico e uma velocidade que exigia mais do espectador do que os filmes em geral.

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Mas, o mais interessante ainda estaria por vir – a questão de gênero – o epicentro do terremoto de negociações políticas é uma mulher. Num território limítrofe em que se cogita que, para ser uma mulher bem sucedida e competente, Miss Sloane teria que abrir mão de sua feminilidade e se tornar um trator implacável. E ao mesmo tempo, traçando um painel dos limites estruturais: o fisiológico e o emocional da alma feminina. O roteirista e o diretor não deixaram calar os anseios da alma humana, eles só os esconderam nas profundezas do mundo vil em que Maquiavel dá as ordens com sua premissa venal, mas estão lá. É só ter olhos de ver.

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O longa-metragem foi indicado a quatro prêmios (todos nos EUA), dentre eles o Globo de Ouro de melhor atriz para Jessica Chastain, não levou nenhum. E possivelmente, não por não ter merecido mas, pelo tema,  pelos caminhos das argumentações e pelo contexto: a política americana, numa obra produzida com euros franceses. “Armas na Mesa” tem uma pegada de “House Of Cards” com a essência de negociações, jogadas e velocidade de raciocínio. Sem contar a abordagem da ausência total de valores humanos. John Madden, disfarçado competentemente, de David Fincher mandou muito bem na direção e surpreendeu pela abordagem. “Miss Sloane” é um Frank Underwood de saia e nem por isso mais light. Filmaço!

 

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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