As Boas Maneiras (Les Bonnes Manières/Good Manners) (Fantasia/Horror); Elenco: Isabél Zuaa, Marjorie Estiano, Miguel Lobo; Direção: Marco Dutra e Juliana Rojas; Brasil/França, 2017. 135 Min.
O cinema nacional tem se diversificado no que diz respeito a gênero e tem se aprimorado no quesito qualidade técnica. O exemplo disso é o longa “Quando Eu Era Vivo” (2014). Nessa mesma pegada, não por acaso, do mesmo diretor “As Boas Maneiras” entra em cartaz com uma abordagem inovadora e de cunho social. A inovação se dá no argumento: contar a história do lobisomen na fase de gestação e infância; o cunho social fica por conta do contexto em que a história é posta: na favela e adotado por uma negra assalariada.
A versão brasileira da história do lobisomen pensa na gestação da criatura, oriunda de uma mãe classe média alta, Ana (Marjorie Estiano), que morre ao dar a luz ao bebê e na adoção deste pela empregada Clara (Isabél Zuaa) que auxiliava sua mãe durante o período. A história aborda sua saga de cuidados desde a gravidez misteriosa e sui generis até as providências a cada virada de lua cheia, as relações com os vizinhos e com os colegas de escola, num contexto bem brasileiro (comunidade e festa junina) até a perseguição por parte dos ‘cidadãos de bem’. A narrativa é um álibi perfeito para abordar as dificuldades de encaixe dos ‘diferentes’ na sociedade e a ignorância desta. O sofrimento de quem protege e de quem é protegido e o quanto a gentileza e as boas maneiras são necessárias, mas têm seu preço neste contexto.
A obra cinematográfica conta com a direção e roteiro de Marco Dutra de “O Silêncio do Céu” (2016) e Juliana Rojas de “Sinfonia da Necrópole” (2014). As atuações de Isabél Zuaa de “Joaquim” (2017) e de Marjorie Estiano de “Entre Irmãs” (2017) dão vida a personagens de origens diferentes, de classes sociais diferentes e etnias diferentes, mas que se igualam naquilo que é inerente ao humano desconhecendo fronteiras convencionais. A fotografia de Rui Poças de “Zama” (2017) é magistral e foi premiada no Janela do Recife International Film Festival e no Festival do Rio. Com sua abordagem original e pensando um momento da vida do lobisomen que não é visto comumente o longa foi premiado mundo afora (segue a lista de premiações no final do texto).
Quebrando clichezões dos filmes de terror e trazendo essa proposta folclórica para a realidade e para a contemporaneidade “As Boas Maneiras” produz reações variadas durante sua exibição, da estranheza ao incômodo, do deslocamento artístico, ao perceber que terror e musical se dão as mãos numa pegada americana abrasileirada, ao entendimento da crítica social embutida no longa no seu grande fin, possivelmente, nos dizendo que se o lobisomen fosse brasileiro e pobre não passaria do Ensino Fundamental. Para quem curte uma abordagem inusitada é uma ótima pedida. A produção franco brasileira “As boas Maneiras’ mostra que tem vida inteligente no gênero de terror. Sui generis e genial!
Lista de premiações de “As Boas Maneiras”:
- Menção especial no Austin Fantastic Fest
- Menção especial do juri no Biarritz International of Latin American Cinema
- Menção especial no Buenos Aires International of Independent Cinema
- Prêmio da Crítica no Gerardmer Fim Festival
- Melhor fotografia no Janela de recife International Film Festival
- Prêmio do público no L’Etrange Festival
- Prêmio especial do juri em Locarno
- Menção honrosa no Oslo Films from the South Festival
- Prêmio FIPRESCI de melhor filme No Festival do Rio (Prêmio Félix, Petrobrás, atriz coadjuvante para Marjorie Estiano, melhor fotografia e filme na Première Brasil)
- Menção especial para melhor atriz (Isabél Zuaa) e melhor filme no Sitges – Catalonian International Film Festival
- Prêmio da audiência de melhor filme em Torino International gay & lesbian Film Festival
- Melhor filme – competição internacional – no Uruguay International Film Festival
- Melhor atriz (Isabél Zuaa) no Zinegoark Bilbao International Film Festival
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