As Mil e Uma Noites: Vol 1, O Inquieto

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As Mil e Uma Noites: Vol 1, O Inquieto

Por | 2017-01-03T03:25:29-03:00 3 de janeiro de 2017|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

As Mil e Uma Noites: Vol 1, O Inquieto (Drama); Elenco: Crista Alfaiate, Maria Rueff, Bruno Bravo; Direção: Miguel Gomes; Portugal/França/Alemanha/Suiça; 2015. 125 Min.

Miguel Gomes é um cineasta português jovem (44) premiado e reconhecido como um talento naquele país. Dentre seus filmes mais aclamados está “Tabu” (2012) que recebeu o prêmio da crítica (FIPRESCI) e o de inovação (Alfredo Bauer) no Festival de Berlim. Seu trabalho mais recente é a trilogia “Mil e Uma Noites”, uma saga de seis horas de exibição dividida em três partes (o inquieto, o desolado e o encantado) que usa a estrutura dos contos da famosa obra da literatura árabe para falar dos acontecimentos políticos, econômicos e sociais havidos em Portugal entre 2013/2014. Mais especificamente, sobre a política de austeridade econômica implantada pelo governo passando por cima de qualquer pressuposto de justiça social.

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Então, o que Miguel Gomes fez, foi contar histórias que abarquem esses aspectos imiscuídos ao cotidiano do povo português que estejam inseridos neste recorte de tempo. Dos contos populares árabes Miguel só aproveita a estrutura, o filme não é uma adaptação literária. Divido em volumes, a este texto cabe apenas a análise do volume 1, vindo os outros em textos separados subsequentemente.

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Em “As Mil e Uma Noites: Vol 1, O Inquieto” Miguel Gomes ensaia uma introdução apresentando a si e ao contexto político e econômico de Portugal na primeira parte, intitulada: “Os trabalhos do realizador, dos construtores navais e do exterminador de vespas”. Contextualiza sua obra com os contos nos quais se inspira estruturalmente versando sobre o contexto de Xerazade em “A Ilha das jovens virgens de Bagdá”. E inicia sua saga questionadora sobre o egoísmo e os usos dos recursos públicos em causa própria em “Os Homens de Pau Feito”. Prossegue  falando sobre liberdade de expressão e os equívocos do entendimento com “A História do galo e do fogo”. E sobre as consequências disso tudo na vida das pessoas em “O Banho dos Magníficos”.

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Roteirizado por Telmo Churro de “Aquele Querido Mês de Agosto” (2008); Mariana Ricardo do premiado “Tabu” e pelo próprio Miguel Gomes, este volume quase não tem narração em off se sustentando através de crônicas estanques que se estrutram, em sua produção de sentido, nos próprios diálogos. O destaque, aliás de toda a saga, são para as músicas brasileiras. Neste volume: “As Bachianas nº4” de Villa-Lobos e toda uma diversidade de estilos e ritmos que vão de Alberto Domingues (Perfídia) a Arvo Pärt (Für Alina). Dentre os prêmios recebidos pela trilogia em vários festivais mundo afora, destaca-se o Globo de Ouro português de Melhor Filme.

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“As Mil e Uma Noites: Vol 1, O Inquieto” é o mais político dos três filmes e mexe na ferida das desobrigações sociais – a vertente neoliberal desenfreada – e contextualiza isso com o cotidiano das pessoas. Esse, no próximo volume será o personagem principal. A obra é um painel de protestos através de parábolas contadas muito lenta e vagarosamente. E é ousado para um produto comercial, pela estrutura escolhida e pelo tema. Vale a pena conferir!

 

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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